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O elefante e os cegosAntes de iniciar o prólogo do seu primeiro romance “Nix” premiado em 2016, o escritor Nathan Hill brinda os leitores com uma passagem de “ditos inspirados do Buda” falando do elefante e dos cegos.
O rei de Sãvatthi deu a um habitante do seu reino uma missão. Foi lhe ordenado que reunisse todas as pessoas nascidas cegas. Depois que todos estavam reunidos, a nova ordem do rei foi que um elefante fosse mostrado a eles.
Alguns dos cegos passaram a mão pela cabeça do elefante. Outros pelas orelhas; outros a presa, tromba, o tronco, a pata, as ancas o rabo e até ou tufos de pelos na ponta do rabo. E cada um dos cegos ouviu do homem que aquilo era um elefante. Informado da missão cumprida, o rei foi até os cegos e lhes disse: Digam-me como é um elefante?
De acordo com a parte que lhes foi permitida apalpar cada cego descreveu o elefante de maneira diferente. De “cântaros de água” para quem apalpou a cabeça, uma “relha” para a tromba, a um “arado” para os que passaram a mão pelo seu tronco.
Então se iniciou uma discussão acalorada entre os cegos. Todos queriam ter razão sobre como era um elefante. Logo a discussão descambou para a violência. Pouco tempo depois, os cegos estavam lutando uns contra os outros usando de socos e pontapés pelo seu elefante. E o rei ficou imensamente satisfeito.
A História permite dizer que a analogia dos cegos e do elefante sempre coube bem em qualquer tempo da evolução humana. Quando a do nosso tempo for contada não será diferente. A tecnologia tem permitido que uma imensidão de novos cegos discuta e lute defendendo o seu elefante. E se não existem reis, os donos do poder mundial também ficam satisfeitos.
Temos uma multidão de cegos apalpando o elefante ideológico. Uns apalpam pela direita. Outros pela esquerda. Muitas vezes ainda, o elefante ideológico é comparado com mitos enfeitados por fake news. Alguns carregam na tromba o negacionismo. A discussão nunca deixa de ser acalorada. Já vimos socos e pontapés serem usados. Com armas nas mãos fatalmente esses cegos se matarão.
Temos uma multidão de cegos apalpando o elefante das crenças. Os católicos apalpam aqui. Os evangélicos apalpam ali. Outros apalpam lá. Todos buscando o direito de propriedade sobre o elefante deus. A discussão nunca deixa de ser acalorada. Entranho que esse Deus nunca impediu que socos, pontapés e armas fossem usados. E a grande interrogação. Será que Deus fica satisfeito?
Os cegos sempre buscarão um elefante para apalpar. Tromba ou rabo, a verdade pouco importa. E enquanto existirem muitos cegos, uma minoria estará satisfeita.
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