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MISTURASAs cores intensas
dos vitrais da Catedral da Sé,
não destacam o interior do templo.
Ali na cripta luminosa
há bispos enterrados
que, decerto um dia pediram a penumbra,
o negrume intacto das câmaras mortuárias,
o avesso da Rosa- dos- Ventos
no marco zero da cidade.
O “spray” dos capacetes
- motos na avenida Radial Leste –
não garantem a segurança das cabeças.
Após o acidente o asfalto absorve
o sangue do motociclista,
o giz branco circula o corpo
e o padre da diocese abençoa o espectro do morto.
E quando demoliram os casarões da Av. Paulista,
Outros manifestos se abriram:
“Há um cheiro da pintura nova.
Vamos recolher os antigos blocos
de cimento colorido.
e reconstruir a casa das flores”.
“Esperem! Não era nesta mansão,
que surgia um escuro galo catavento
com para-raios na crista?
Não era este galo escuro que resgatava vidas?”
Sim. Todos perdem
pois não sabem que sempre nos misturamos
em um preto e branco gerativo
E quando penso nisso,
lembro da antiga tevê sem cor,
a imagem do comercial,
o dente escovado pelo creme dental,
era branco tal qual o prédio do banco
do Estado de São Paulo.
O edifício lembra o “Empire State”
e o gorila do filme que despencava em Nova York
também despencou aqui.
Faz muito tempo.
Caiu longe,
perto do Largo do Café.
e criou algo muito negro,
curvilíneo,
um Ford Bigode.
Do livro: A CIDADE POSSÍVEL
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