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OS SUBPRODUTOS DA INTELIGÊNCIA - Crônica escrita em 2017É fato comprovado. Foi o alvorecer da inteligência o responsável pelos seres humanos alcançarem o status de raça dominante no planeta. E se a inteligência acelerou nossa evolução, também tatuou as sociedades com seus subprodutos. Se fosse apenas ignorância, poderíamos ser confundidos com bichinhos de estimação. Não é o caso.
Um osso transformado em arma, foi apenas o primeiro dos vários subprodutos da inteligência. Se evoluímos sem garras visíveis, é correto afirmar que nossas garras se escondem camufladas nos subprodutos. O que nos torna animais predadores em potenciais. Os urros do instinto, sempre calam a razão.
Somos a única raça no planeta com a capacidade de apontar o dedo para as diferenças. Sejam elas físicas, mentais, cor ou, tantas outras criadas pelas convenções que regem as sociedades, como no caso das ideologias e das crenças. Com toda certeza, os predadores mais perigosos são aqueles que se vendem às crenças e as ideologias.
São as crenças e as ideologias o combustível perfeito que alimenta a fogueira de outro subproduto da nossa inteligência. O ódio exerce um fascínio surreal sobre os seres humanos. O ódio que mata em Paris ou Londres, é o mesmo das bombas teleguiadas despejadas de aviões. A diferença entre os dois, é o glamour que mídia ostenta.
Outro subproduto da inteligência é a fé. O acreditar naquilo que nos contam sem a mínima contestação. Meu temor não é um mundo incendiado por bombas atômicas. Temo um mundo incendiado por livros sagrados. Eles também entram na lista dos subprodutos da inteligência.
Já houve uma era de terrorismo causado pela ideologia política. Esses grupos tiveram seu auge de barbáries, só que nunca foram tão perigosos quanto os que se alimentam pelas crenças criadas pelo processo das lavagens cerebrais. A matéria-prima de que todos os subprodutos da inteligência são constituídos.
Os subprodutos da inteligência são como bactérias epidêmicas. Uma doença extremamente contagiosa. O mais preocupante nesta epidemia, é que os doentes são os outros. Estamos sempre nos achando imunes.
Em seu livro “Sapiens – Uma breve história da humanidade”, Yuval Noah Harari faz uma analogia interessante. Ele diz que nenhum macaco acreditará no paraíso, ou em setenta virgens esperando no céu em troca de uma banana. Nem mesmo, se fosse um cacho inteiro delas. Já nós, talvez, acreditaríamos até pela casca da banana.
As lavagens cerebrais só são possíveis em animais predadores agraciados com a inteligência. Apenas esses têm a capacidade de trocar crenças e ideologias por bananas. Apenas aqueles que afiam suas garras nos subprodutos da inteligência.
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