Walter estava acamado no hospital curando uma pneumonia quando sua esposa entra em seu quarto. O doente então revela:

- Marisa, eu estive aqui pensando e finalmente compreendi o Teorema de Pitágoras! O quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos. Meus Deus, como é revelador!

A mulher que voltava do emprego não entende o início da conversa. Walter continua:

- No ensino médio tudo foi decorado e os problemas eram resolvidos através de cópias de exercícios antigos, mas agora... o meu juízo revelou que Pitágoras não só criou o Teorema como também o fez para a sua compreensão dividir a vida de um homem em duas partes. A hipotenusa tornou-se um horizonte.

Walter com os olhos pregados na janela, relacionou o mundo quando não compreendia o tal Teorema. Existiam corações de mães, gostos femininos presos em cabeleiras loiras, o medo de questões, professores de rostos roídos e peças e peças gastas. A partir de hoje, depois do ângulo reto do teorema, existe, como princípio, apenas a vida fixa em uma ideia de harmonia.
Walter sente uma súbita melhora da doença e respira. Gostaria de comentar com a esposa, mas como esclarecer melhor uma nova ordem dominante do seu universo a partir da ideia de que, em todo triângulo retângulo, o quadrado da hipotenusa é igual a soma dos quadrados dos catetos. Uma teoria simples universalizou a sua alma.

A esposa pareceu não entender, por um momento. Ela trouxe uma garrafa térmica com café para passar a noite ao lado do marido. Depois chegou perto da cama, passou as mãos nos cabelos de Walter e disse:

- Hoje no metrô eu vi uma cena igual ao que você disse: um adolescente arrumava os cabelos brancos de um homem mais velho. O idoso tinha o mesmo rosto do jovem. Tão parecidos. Depois percebi... os dois eram o pai e o filho. Há muito tempo eu não via tanta beleza.

Sim, a cena vista pela esposa era algo belo e simétrico, pensou Walter, já plenamente ingressado em seu novo mundo geométrico nascido ali: um pai e um filho.

Neste momento pediu um beijo de sua esposa.