Um dos pontos que marca com clareza o descontentamento do homem moderno é a sua certeza cotidiana quanto aos seus desejos. Nas palavras de Iara Maria Carvalho, ”não presumo a extensão do desastre: / tantas vezes mil é o peso do arame sobre os ombros...”.
Apesar de ter consciência das regras sociais, o homem enfrenta seus desejos com o medo que se apresenta e, às vezes, seus sonhos beiram a assustadora realidade. Porque na verdade reside na relação de conflitos entre o desejo e a consciência ao cumprir as regras como dever, o que pode representar o confronto entre o social e o sentimento na necessidade de questionar o avanço desenfreado do progresso. Iara Carvalho escreve, “chega um tempo / em que a vida / precisa ser em voz alta”.
Somos diversos entre nós e os pensadores; consequentemente, somos regidos por regras na composição do cenário vivenciado nas relações que explodem as diferenças nos (inconscientes) desejos, o que se repete no processo de instrumentalização da cultura. Como em Iara Carvalho, “vivo sob um pêndulo sombrio / que me leva / aqui // ali // - além... // à procura de um sonho / que me devora / a luz”.
As regras estabelecidas pela sociedade são a postura frente ao progresso e visam evitar conflitos comportamentais entre as diferentes percepções do mundo. A emoção vivida de maneira intensa pode falar mais alto do que a razão e, consequentemente, levar a vivermos em relação desarmônica na inconciliável oposição entre o social e o sentimento. Ou seja, desejos e regras são oposições consideradas na construção da vida, em que a arte de conviver se desenvolve com vigor em que cada um tem seu espaço e tempo para expor ideias e ideais. A vida acelerada, como (d)efeito, resulta em igualar as pessoas na inferioridade cultural. Ainda em Iara, “... desejou minha memória, / meu jeito perigoso de servir / e o passar lento dos meus dias sem orgulho. // Uma dama sem avessos?...”
O pior da modernidade em nossos dias pode ser explicitado pelo receber telefonema do crematório oferecendo bom plano de pagamento e dizendo para você aproveitar a oportunidade (?!?). Penso que no caso extrapolaram as regras racionais e emocionais. Ainda, e no mesmo dia, alguém da casa lotérica telefona oferecendo a sua grande oportunidade de enriquecer com os jogos tais e tais!??