Acordo e sei que não deixarei de pensar em você. Sinto no tempo o reverso da saudade que se apresenta longo; chega à memória acompanhada dos ponteiros que marcaram o nosso viver, colocados para sentir a vida sem você, em estado de êxtase, pois, não me é permitido o tempo para voltar “àquela época de felicidade”, na qual a saudade não se fazia presente e eu estava descobrindo o nosso amor e captando a sua alma.
Hoje, tenho coragem para inventar o tempo ao contar a nossa história com o objetivo de guardar na lembrança a harmonia, o respeito, a alegria, a admiração e o amor. Pergunto se existe sentimento tão difícil quanto a saudade. Tom Jobim e Vinícius de Morais respondem, “... chega de saudade / A realidade é que sem ela / Não há tristeza e melancolia / Que não sai de mim...”
Revivo o tempo para me encaixar na atualidade, em que a saudade dá sentido a nossa história e aos melhores momentos. Não me esqueço dos piores, guardados em mim e igualmente importantes em seus significados.
O tempo providencia retornar a lembrança com saudade. Sinto-me perdida pela sensação de que podia ter sido diferente; como encontro no livro de Ruy Castro, em que ele “faz uma narrativa que se lê como um romance a vida boêmia e cultural dos tempos da Bossa Nova”.
A saudade que carrego me leva a sentir que a vida romântica ficou no passado e que os personagens foram embora; não mais existem, pois, não há registro dos nossos encontros. Resta a lembrança das sensações vividas na expectativa daquele tempo.
Preciso fazer o que me dá a certeza de que a saudade passará ao resistir à tentação de voltar a procurar você no cenário daquele grande momento, onde referencio a nossa história; juras de compromisso; livros de registros do nosso amor e a música no ritmo do coração. Embora não possa fugir à dura realidade, nem fazer da minha hora o nosso tempo passado, continuo a sentir você no reverso da minha saudade.