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DIAS PERDIDOS

Mario Quintana escreveu que “Quem ama inventa...” Diferente dos outros dias, esse, em especial, está perdido, porque não consigo fazer o tempo voltar, porque, para Tomaz Albornoz Neves, “Torna-me / quem me esqueceu”. Sei que é impossível fazer o tempo voltar, e que dependo de mim para dar ponto final nesse fluxo constante e, ainda, criar alternativas para assegurar que meus amanhãs não se percam.
Em cada dia perdido, me consumo em culpas, por não dar atenção ao que de fato interessa. Procuro evitar os esquecimentos (a)notando as prioridades; ter clareza do que vale a pena para não perder o dia é ponto de partida para superar e determinar o que posso deixar para amanhã. Albornoz reflete, “Penso como quem esquece / como quem cai subitamente no esquecimento / e me expresso”.
Depois de haver perdido o encontro, passo a escolher e separar em minutos o dia, para me dedicar ao planejado; para isso foi preciso trocar as atividades e driblar as situações, para não mais adiar os compromissos.
É bom ter perspectivas e resolver os dilemas na medida em que se apresentam; para que isso aconteça, crio situações que reflitam e reciclem as ideias. O segredo é inventar pequenos e vitais respiros no cotidiano.
Considero o dia perdido, quando lembro a morte do poeta Tagore Biram, no Chile, em 1988; deixou o premiado livro O Anjo Desafinado, onde encontro “... não me venham dizer que não é tempo / de falar de flores e que / passou-se o tempo de falar de amores. / Eu, do meu lado não cansei ainda / de amar com meu amor desesperado. / (mesmo não havendo intervalo / no calendário de minhas dores...”
Por mais cuidadosa que eu seja, é improvável que consiga passar a vida sem ter, pelo menos, alguns dias perdidos.

 
   
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