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“VOZES da NATUREZA”Hoje irei ao jardim zoológico para ouvir algumas vozes da natureza. Como as crianças, eu também tenho a curiosidade de desvelar a vida secreta dos animais. Principalmente dos bichos considerados “feios”, aqueles dos quais tenho medo, os não domesticáveis. Porém, sei que apenas a imaginação é capaz de inventar coisas e mostrar o que não vejo, mas, existem nas entrelinhas dos livros, como Memórias Inventadas para Crianças, de Manoel de Barros.
É preciso ler para conhecer e poder viajar sem sair de casa ou sem precisar conviver com, por exemplo, o sapo, a cobra, a lagartixa e tantos outros... O sapo é bicho asqueroso que faz sucesso na literatura, vira príncipe quando beijado. Para Manoel de Barros, “O sapo é um pedaço de chão que pula”.
Mario Quintana, em 1984, escreveu o livro de poesia Sapo Amarelo, despertando a sensibilidade nos jovens. O autor brinca com as palavras inventadas e dessa forma cai no gosto do pequeno leitor, como demonstra, “Lili chamava o sapo de bicho-nenê... Ouçam, pois ouçam todos como o seu melhor ouvido, o nenê-bicho, que é apenas uma variante humana do bicho-nenê”.
Uma coisa é certa, é possível dizer que a presença dos bichos se dá tanto na natureza, quanto na literatura. No âmbito da cultura, encontro a coletânea Bichos de Versos; obra que mostra o lado alegre e esquisito dos animais. Segundo Juracy I.A.Saraiva, “De verso em verso bichos diversos... As combinações das palavras mexem tanto com a gente, que dá vontade de desenhar os poemas no pensamento”. A coletânea está dividida em duas partes: na primeira, estão presentes os poetas Ferreira Gullar, Ronald Claver, Cora Rónai e Ulisses Tavares – que descrevem como as crianças veem os bichos e brincam com o som da palavra. Na segunda parte, participam os poetas Felipe Moisés, Haroldo de Campos, Guilherme de Almeida, Machado de Assis e Fagundes Varela. que recorrem aos bichos para expressar sentimentos diante da vida. Como demonstra Guilherme Almeida, “O chocalho dos sapos coaxa / como um caracaxá rachado. Tudo mexe...” e, Ronald Claver, “O rinoceronte de bela feiura / carrega na cara a narca deste lugar: / o espinho”.
As imagens ganham força na literatura por sobressaírem na natureza; são facilmente reconhecidas e remetidas aos sentidos em comunhão com a natureza. Além de dizer respeito ao sonho mesclado de ingenuidade que vem em busca de aventura: passear no zoológico com o firme propósito de ouvir vozes da natureza. Como diz Manoel de Barros, “Tudo o que não invento é falso”.
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