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IDENTIDADE CULTURAL Em conversa recente, um amigo, do movimento teatral, fez uma análise crua, mas real, a respeito de Tanguá como município: “Tanguá nunca será realmente um município enquanto não encontrar a sua identidade cultural”. É doloroso, para quem vive em Tanguá e lutou para sua emancipação, ver que estamos parados quase no mesmo ponto daquele já distante 15 de novembro de 1995, em que o povo depositou seu voto a favor de Tanguá nas urnas.
Digo “quase no mesmo ponto”, porque um fato novo ocorreu, e não vai aqui nenhuma propaganda política descabida – a eleição de alguém comprometido com a cultura. Pode-se fazer qualquer crítica ao nosso município mas, neste particular, Tanguá está à frente de todas as cidades vizinhas. Em nenhuma delas, um candidato a vereador ligado ao movimento cultural foi eleito. E Luciano Lúcio sabe a esperança que depositamos nele, todos aqueles ligados ao movimento cultural de Tanguá.
No entanto, todos sabemos que isto não basta. A identidade cultural de um povo não nasce por decreto, nem projeto de lei. Ela é conquistada diariamente, ou, até mesmo, resgatada de seu passado histórico. Diferente de outras cidades – como o exemplo próximo de Itaboraí, berço do maior ator brasileiro, João Caetano, e de um dos maiores escritores, Joaquim Manoel de Macedo – Tanguá é uma terra nova, que ainda não gerou legendas culturais.
Portanto, neste campo, o trabalho deve ser voltado para a geração de artistas, para a valorização dos talentos, que nascem todos os dias mas que morrem na falta de oportunidades. Se ainda não tivemos “Joões Caetanos” ou “Joaquins Macedos”, poderemos ter grandes nomes no futuro. A vocação clara para o artesanato deveria ser valorizada, com cursos e espaços para exposição. O teatro, a música, a dança, a literatura e as manifestações culturais tradicionais precisam de apoio. Tratar cultura como “área menor” na administração pública é um erro que muitos governos cometem – e que gera efeitos desastrosos para as gerações futuras.
Voltando ao ponto inicial da conversa, ao contrário do que muitos pensam, a cultura não é só “fazer show” – é gerar artistas e gerar gente interessada em cultura. Para que esta cidade não seja apenas um aglomerado de casas, com pessoas que não respiram o dia-a-dia de sua terra, é preciso envolver a população com a história de Tanguá, com a arte de Tanguá, com a cultura de Tanguá. Daí nascerá o verdadeiro orgulho de ser tanguaense, sua verdadeira identidade, sua confiança no futuro.
(Artigo publicado no jornal FAZENDO ACONTECER, edição nº 1, de agosto de 2001. Apesar de melhorias ocorridas nesses anos, o artigo ainda mantém sua atualidade com respeito a Tanguá e a necessidade da descoberta de uma verdadeira “identidade cultural”.)
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