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UM REMAKE SOMBRIO

Uma oportunidade para ver a nova
(e melhor) cara de Gallactica

Sou um verdadeiro rato de séries de ficção científica na TV e, eventualmente, no cinema também. Desde garoto, acompanhei viagens espaciais, encontros com raças alienígenas, batalhas intergaláticas, e coisas afins, incentivando o meu gosto pela leitura do gênero e a descoberta do que pode-se chamar “ficção científica séria”.
As séries de ficção, hoje atendendo à alcunha de sci-fi, sempre foram mais entretenimento do que compromisso com a verossimilhança daquilo que propõem. Muitas penderam para o lado humorístico (que não se lembra de “Perdidos no Espaço”?), outras para o fantástico (“Além da Imaginação”), mas eram campo fértil para um garoto soltar sua verve criativa.
Não quero aqui falar de “Jornada nas Estrelas”, o que valeria de minha parte um talvez um livro, dado o envolvimento que tenho com a série e suas “filhas”, ou séries derivadas. Quero falar do remake de uma série do fim dos anos 70, início dos 80, que marcou minha adolescência. Falo de “Galáctica”, que surgiu na onda oportunista sobre o sucesso de “Guerra nas Estrelas”, seguindo aquela linha de “space-opera”, com batalhas espaciais, mocinhos e vilões quase como num faroeste.
A série original deixava escapar que não era uma coisa séria. O argumento, do todo-poderoso criador de séries Glenn A. Larson, era simples e ao mesmo tempo confuso. Doze colônias são destruídas por uma raça de robôs alienígenas e os sobreviventes saem num êxodo, digno de um Moisés, em busca da terra prometida, ou simplesmente “Planeta Terra”. As colônias, com nomes alusivos às constelações do zodíaco, nunca foram muito bem engolidas pelos fãs da ficção científica séria, e já no meio da primeira temporada os episódios sempre traziam uma “piadinha” no meio.
Confesso que assisti tudo o que passou de Galática na TV, inclusive as parcas reprises. Gostava da série, até porque as constelações do zodíaco nunca me incomodaram – eu sou astrólogo. Era bem melhor, por exemplo, que a contemporânea Buck Rogers, um equívoco total. Mas foi uma série de tiro curto. A audiência não foi lá essas coisas e vale a menção que, depois que os “coloniais” chegaram à Terra, a coisa perdeu um pouco de sentido. O piloto da série, que foi exibido aqui nos cinemas, é interessante – tenho o livro sobre o roteiro, numa publicação portuguesa que considero muito pitoresca.
Em 2005, o canal por assinatura TNT passou a exibir uma mini-série entitulada “Battlestar Gallactica”, o que aparentemente seria uma refilmagem da série original, 25 anos depois. Pois o remake foi quase uma “desconstrução” da série, resultando em uma série muito melhor, mais humana, mais profunda e, sem dúvidas, com ares de ficção científica séria.
Nos treze episódios da mini-série, vemos novamente o comandante Adama à frente da nave de combate Gallactica, seu filho Apolo um bravo capitão, o coronel Tigh como segundo em comando, o Dr. Baltar como traidor ... Mas as semelhanças param por aí. Os cylons, que antes eram simplesmente robôs do espaço, agora são “filhos” dos humanos, criados e, depois, exilados pelas 12 colônias. Eles voltam para destruir seus pais, quase freudianamente. Com um detalhe: os cylons podem se parecer com humanos.
Alguns personagens fundamentais sofreram mudanças radicais na nova série. Starbuck, o companheiro de Apolo e verdadeiro às nos caças, agora é uma mulher. Boomer, o colega sempre presente também mudou de sexo e, pior, virou cylon. Isso causou revolta nos fãs ardorosos da série original. Descobri, logo nos primeiros episódios, que havia um tom soturno na nova série, como uma grande tragédia (afinal, eram bilhões de mortos, doze planetas destruídos, e alguns desesperados sobreviventes seguindo pelo espaço atrás de um paraíso lendário).
Não tenho dúvidas de que a nova série é muito melhor que a original. O elenco é apoiado em dois grandes atores, Edward James Olmos, que faz um seríssimo comandante Adama, e Mary MacDonell, que faz a presidente (sim, mais uma mudança) Laura Roslin. O duelo de poder e, por vezes, a cumplicidade entre os dois, é fundamental para o seriado. Kate Sachoff, que encarna a versão feminina de Starbuck, é outro destaque. Os personagens, com fraquezas humanas, são ultra-realistas – o que é reforçado pelo estilo de documentário utilizado em muitas cenas e tomadas de câmera.
Com tudo isso, resta recomendar a quem assina o TNT que assista “Battlestar Gallactica”, que já está na reprise de seu segundo ano (pois é, a mini-série virou série regular mesmo). O horário é meio ingrato, mas vale o esforço.


Em tempo: a série Battlestar Gallactica completou 6 temporadas em exibição nos EUA, até 2009. Você pode encontrar disponíveis em DVD e, realmente, vale a pena.


(Direitos reservados. Publicado no site do autor em 23/11/2006. Parte do livro "Realidade nua e crua", disponível para download gratuito em www.williammendonca.com)

 
   
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