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CRUZ E SOUZA - O canto do Cisne Negro Um dos poucos simbolistas de primeira hora no Brasil - que captou a idéia póetica que tomava conta dos círculos literários europeus - é, ao mesmo tempo, um dos casos humanos mais raros na literatura mundial. Esse poeta chamava-se João da Cruz e Sousa, nascido filho de escravos, em 24 de novembro de 1862, na cidade de Desterro - atual Florianópolis, em Santa Catarina. Em 36 anos de vida, passando por episódios de sofrimento e sem alcançar a merecida notoriedade, Cruz e Sousa escreveu um capítulo à parte na literatura brasileira.
Ele é considerado por especialistas um dos maiores poetas simbolistas do mundo, com uma técnica original, o uso de uma linguagem que dava valor às sensações, à sonoridade e musicalidade das palavras, e com um simbolismo por vezes complexo, mas sempre espantosamente amplo.
Num tempo de escravidão, em que pouquíssimos negros alcançavam sucesso em qualquer campo da vida brasileira, relegados que estavam à estagnação social e ao preconceito, o poeta Cruz e Sousa, fruto desse período conturbado, buscou na introspecção simbolista de sua obra a válvula criativa para uma vida de dificuldades.
Quando criança, ele foi amparado por uma família de linha fidalga que lhe ofereceu instruir e o educou num sentimento grave da vida: a de haver sido combatido, desprezado, humilhado por ser uma criança negra, buscando o conhecimento que era praticamente exclusivo dos brancos.
Aos 20 anos, já dirigia um jornal abolicionista, a Tribuna Popular - e pela agitação que provocava, foi obrigado a deixar a cidade em 1883. Trabalhou como ponto e secretário de uma companhia teatral, percorrendo todas as províncias brasileiras. De volta a Santa Catarina, foi nomeado promotor público em Laguna, mas devido ao preconceito, não pode assumir o cargo, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na imprensa e na Estrada de Ferro Central do Brasil.
Até ser vencido pela tuberculose, em 19 de março de 1898, o “cisne negro”, autor de “Broquéis”, “Faróis” e “Últimos Sonetos”, viveu intensamente os efeitos do preconceito racial. Lutou pelo reconhecimento, que só alcançou após a morte.
(Parte da coletânea "História de Poetas". Publicado no jornal A VOZ DE MARAMBAIA. Publicado no site www.williammendonca.com em 18/09/2008.)
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