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CARTA AO DONO DO MUNDO (Crônica) Os dias andam nebulosamente indecisos, as coisas não estão conforme imaginei, quase nunca estou tranqüilo, sinto uma inquietude que extrapola um mero nervosismo. Ando sorumbático mesmo.
Atualmente a maioria dos dias estou só, isolado em mim mesmo, ainda que rodeado de pessoas, até que simpáticas, que falam coisas interessantes, soltam risos espontâneos, entretanto às vezes ou quase sempre, pego-me achando tudo absolutamente sem graça. Estou ficando sem graça também. Já não uso toda minha capacidade interpretativa, racional, lógica e o dom que possuo que é a escrita anda sem brilho, opaco, em textos igualmente sem graça. Acho que é angústia, não sei, estou preso nos laços desse invisível cativeiro.
Percebi que precisava buscar alguma coisa que havia perdido nas esquinas do mundo. Sai à procura do não sei o quê que me faltava. Engraçado eu não tinha a menor idéia do que seria. Isto me incomodava, precisava pesquisar meu interior. Então viajei, andei, percorri as periferias do cérebro, numa insólita viagem ao centro de mim mesmo. Passei pelas terras da imaginação, que por sinal era de uma efervescência muito louca, os circuitos elétricos faiscavam a todo segundo. Vi que imaginação não me faltava, faltava era a vontade de imaginar. Andei nos terrenos da dedução lógica, havia uma certa calmaria nestas plagas, porém no distrito da emoção a agitação era total. A emoção sempre falou mais alto que a razão dentro de mim.
Continuei minha peregrinação e vi o recanto das sensações aflorado, mas quando atingi a seara da fé e esperança observei um enorme vazio, então parei e sentei-me no limiar da razão para contemplar aquela aridez e refletir. Pude compreender a ausência que sentia. Faltava em mim o elo que outrora existira, o elo que sem saber rompi ao longo da minha vida, o elo com o Criador. Era isso que me faltava a fé! Compreendi que este sentimento de infinita solidão advém desta falta de aproximação com o Pai Celestial.
Este profundo vazio que sinto n’alma, visível em meu olhar, reflete essa ausência da comunhão com o Pai, porém Ele pleno e absoluto esteve me cuidando a todo instante, desviando-me de caminhos que poderiam ser muito mais tortuosos, mas tola e desavisadamente não via isso. Ah! Meu Pai quantas vezes reclamei, esbravejei, pedi tantas coisas, e nada fiz por merecer. Arrogantemente esperava o Seu sinal, como se eu fosse um ser magnânimo, um rei que todos tinham que atender, na verdade devo me ajoelhar e chorar lágrimas de sangue, implorando a Sua infinita complacência e Seu perdão. Inúmeras vezes chorei minhas dores e mágoas pensando ser um choro solitário, mas Você estava ali me confortando, mas eu não percebia.
Pai! Permita-me uma pergunta: Posso perdir-Lhe uma nova chance?
Como resposta uma interrogação martelou minha mente:
“Filho por que me fazes esta pergunta se já a respondestes? Acaso algum dia lhe abandonei para que peças nova chance?
02/10/07
ANDRADE JORGE
direitos autorais registrados
do livro "Quem é esse ser" editora A Casa do Novo Autor
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