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ASPIRAÇÕES... NA TARDE CHUVOSA... ASPIRAÇÕES...
NA TARDE CHUVOSA...
Estou só na minha sala... O silêncio me acalma!
Estes dias de chuvas, tocam dentro de mim...
E enchem por completo toda a minha alma
De motivos vãos... Sentimentos vagos de esplim...
Aqui no meu reduto – o dia está cinzento
Num recolhimento de tédios chocantes;
Existe em mim um silêncio bom de isolamento
E uma vontade fútil de mil coisas distantes...
Ouço os pingos que passam pela rua afora,
Para mim, são como desfiar as contas de um terço,
E a chuva... a recitar a mesma ária sonora
Quem sabe se a cantar não embala algum berço?
Vai morrendo a tarde, pacífica... A chuva a cair tão boa...
Parece bem mais triste a chuva ao fim do dia...
Ouço pisadas de alguém solfejando à toa
Uma canção singular que eu quase já não ouvia!
Quem pode ser? Ah! se fosse o som dos teus passos!
Se enfim fosses tu, (que um dia partiste...)
E que agora de novo, viesses aos meus braços,
Nesta tarde chuvosa compenetrada e triste...
Fosses tu que voltasses para a minha vida,
Para vim aquecer nosso abrigo, como antigamente,
- e trouxesses tua alma ardente e arrependida!
E teu corpo, agora arrependido e quente!
E as tuas mãos novamente para as minhas mãos,
E os teus olhos brilhantes para a luz dos meus...
E lançasses ao voltar, as sementes e os grãos
Na terra vazia que deixastes depois do teu adeus!
Há dias que chove assim... Dias lentos, cinzentos!
Eu, sozinho, horas a fio, entre livros e impaciente
Ouvindo lá fora o sonoro sibilar dos ventos
E a monotonia da chuva caindo lentamente...
Acho bom este isolamento!... A calma... Esta doçura...
Vendo as folhagens na vidraça como me acenando,
E uma silhueta de mulher... (a chuva forma a figura!)
E minha mão no papel veloz vai desenhando...
Francisco de Assis Silva
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