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TEMPESTADE

Não havia chovido durante toda a noite e parte da manhã, porém sentia-se um ar quente, abafado, que tomava conta do lugar. O céu, de repente, ficara chumbo, com grossas nuvens que esconderam o sol. Houve até um arco-íris que logo desapareceu ao se encontrar com a força da escuridão de uma tempestade que se anunciava no horizonte. Ouvia-se, ao longe e a princípio, o estrondo dos trovões. Via-se o relampejar constante entre as nuvens densas que insistiam em cobrir o céu. Os pingos da chuva começaram a cair numa sequência constante, parecendo se unir uns aos outros para formar a tempestade. Ao tocar o solo, a água da chuva levava consigo a terra. Com se fosse um turbilhão, o vento forte acompanhava tudo, dando movimento ao temporal.
Era difícil não perceber o medo que aquilo causava. Dentro de casa, as crianças ficavam até o barulho passar. E como parecia demorar! Cobriam a cabeça debaixo dos cobertores para proteger olhos, ouvidos e corações que, insistentes, queriam por que queriam fazer parte daquele momento agitado da natureza. Mesmo sem querer, espiavam o brilho que vinha repentinamente pela janela, seguido do som estridente de um trovão.
A casa parecia tão frágil! A chuva entrava pelas frestas das paredes e pelos buracos do telhado. Corriam para acudir móveis e roupas. Colocavam bacias e baldes onde havia goteiras. Embora as janelas estivessem fechadas, o vento e a chuva batiam nas vidraças, querendo entrar.
A mãe corria queimar ramos bentos, acendia velas aos santos e rezava baixinho, enquanto esperava a calmaria. A gurizada a acompanhava nas orações a fim de dar forças às palavras que, com certeza, chegariam aos céus.
&8722; Jesus tá bravo, mamãe?
&8722; Fica quieto, filho! Reza que a chuva passa! – a mulher pegava as contas do rosário ainda com mais força, fechando os olhos, aparentando devoção e desespero. Parecia pedir forças a ela mesma e à frágil e velha casa de madeira.

Sempre que chovia assim forte, tinha-se a sensação de que o mundo teria seu fim naquele instante. No entanto, todos sobreviviam a muitas tempestades que chegavam com os mesmos sons, luzes e gestos.

Quando vinha a calmaria, na rua, ainda se via a vegetação molhada, a terra lavada e as poças de lama formadas pelo quintal. As folhas e os galhos, trazidos de não se sabe de onde, compunham o cenário deixado pela tempestade de verão.
&8722; Posso abrir a janela, mãe?
&8722; Pode. A tempestade já passou...
&8722; Posso também apagar a vela?
&8722; Pode.
E se fez silêncio. A calmaria voltou.

 
   
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