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Lua Cigana

Já nos seus primeiros momentos de vida, vida que dura o tempo em que o sol acaçapa e morre no poente, a lua ciganeia pelo céu num alumiar anémico. Quer, por vezes enganar incautos: as vezes e uma grande bola, outras vezes é apenas um fiapo de luz. Isso porque engorda e emagrece de tempos em tempos.
Se faz poesia, no recitar de bardos e muito voeja nos devaneios dos poetas e seresteiros e até os menestréis…
Faz de conta, essa lua cigana, que nada vê do que aqui em baixo do toldo do céu acontece de real: muita bazófia faz a terra desnudada de pudores e seus assentados em acasalamento. Isso fazem, à luz da lua, desavergonhadamente, imaginando-se incólumes a qualquer julgamento quanto aos pecaminosos atos!
E a lua é cumpliciada com essa sem-vergonhice. Quando em vez, ruborizada, se esconde em nuvens. Mas porque ciganar nessas “horas mortas?,” quando a lubricidade está acendida nos corpos dos viventes; quando a libidinagem está a solta; quando a concupiscência baila e o carnal predomina?!
E os corpos desnudos se roçam em sensualismo vibrante e digladiam-se com línguas húmidas de tesão e mãos embebidas em luxuria e genitálias túmidas de desejos e deleites! …
E o que faz a lua?!
Invade as frestas e as janela e as fissuras com seu olhar-luz enchido de curiosidade e a tudo assiste; impávida e possessa, provavelmente: enchida de inveja, quando cheia; ansiosa por estar no alto, quando nova; enraivecida e ciumosa, a ponto de ficar magrinha atá quase sumir, quando minguante.
Se recupera, entretanto, a ponto de crescer tanto que explode em luz!
Mas há de ser, essa lua cigana, unicamente, perene expectadora!

 
   
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