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NAS PORTAS DE TINTAJJÉLVocê não deve acreditar que pode enxergar apenas com os teus olhos. É fato que eles te ajudam a caminhar. Desviar de pedras e buracos. Saber quando o sinal de trânsito está aberto. Subir e descer escadas. Ver as ondas batendo na praia. Brincar de caracol. Assistir televisão. Ir ao cinema.
Você não deve acreditar no ditado de que “os olhos tudo veem”. Nosso planeta Terra, não é feito apenas de coisas concretas.
Seria bom, mas nossos olhos não enxergam o que existe além do vento. Além do arco-íris. Além do perfume de uma flor. Além das águas cristalinas que descem pela cachoeira. Além do canto dos pássaros num amanhecer de primavera. Além de um beijo de amor.
As coisas desse mundo abstrato, só podem ser vistas com outro tipo de olhos, que todos têm, mas nem todos conhecem. Descobrimos os olhos da alma, quando ainda somos crianças. Infelizmente, à medida que a juventude vai chegando, vamos esquecendo que eles existem.
Num mundo de divindades e deuses, é comum com os olhos da alma se enxergar a fé. A fé nos faz acreditar num mundo de criador e criaturas. Do bem e do mal. De pecados e pecadores. De redenção dos justos e queda os impuros. De purgatório, inferno e céu.
Depois os prazeres da juventude minam a fé. Os olhos da alma vão ficando míopes. No fim, fica a sensação de lampejos. Espasmos que vão se perdendo por entre as brumas até sumirem. Outros ficam literalmente cegos.
Aqueles que persistem formam as religiões. Os que desistem se juntam em tribos. Tenuamente as duas correntes se aglutinam. Uma não sobrevive sem a outra. O resultado são as sociedades.
A História nos conta que as sociedades sobrevivem de momentos distintos. Podemos estar mais pertos, ou mais distantes da desagregação total.
Então recomeça o grande círculo vicioso. Estamos sempre encontrando culpados. Os santos. Os pobres de fé. Os pecadores. A cantilena das maldades. O fogo do inferno.
E mesmo que o círculo seja vicioso os milagres acontecem. Não são milagres atribuídos aos santos. Às vezes, alguns que não têm nada de escolhidos ou sortudos, eles são perspicazes, descobrem a senha do espelho da alma. A porta de entrada para o mundo do faz de conta.
Uma vez dentro dele, não importa o teu tamanho. Nem a tua idade. Ali você será sempre um menino. Mesmo sabendo que você não pertence a esse lugar, voltará sempre para visitá-lo. Uma mistura de hipnose, miragem e magia. Não está escrito “entre” na porta. Ela está aberta.
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