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Confissão da Fera para a Bela

As vezes é necessário viver um grande amor para entender como funciona o mundo, os humanos, e o Universo. As leis invisíveis que regem tudo e todos, que passam imperceptíveis no dia a dia. Acordar, respirar, pensar, falar. Uma infinidade de ações interligadas e ao mesmo tempo divergentes entre si, numa dança cósmica do Ser e Não Ser.

Sou eu, mais um tolo que sofreu com a lavagem cerebral mais imperceptível a nós mesmos, a paixão, um sentimento tolo e talvez necessário, que molda os homens a agirem como idiotas e que muitas vezes surge de falsas reações que nos fazem imaginar algo que não existe.

Somos esperançosos em encontrar o parceiro, ou parceira ideal e por vezes nos apaixonamos pelas coisas mais simples, um sorriso, uma conversa, um encontro indireto de olhares, ou mesmo um acidente o que nos leva a acreditar em coincidências e nos fazem talvez associar ao destino.

Mas nada disso existe, coincidências são apenas coincidências, embora nossa mente deseje criar um mundo ilusório, que nos faz acreditar que tudo é possível, é ótimo crer em algo, acreditar que uma fera conhecerá uma bela e eles viverão felizes para sempre.
Hipocrisia, dentro da bela há desejos humanos, desejos que uma fera jamais conseguira atender, a não ser que ela se transforme, que ela se molde, que ela se torne o príncipe encantado. Mas na vida não há magia, as e as pessoas são falsas, são mentirosas, as vezes elas soltam esse gás de maldade de suas bocas, e apenas os espertos e os atenciosos, conseguem entender a situação real.

Eu sou uma fera, um ser diferente dos outros, não porque tenho mais força ou que eu me veja superior, mas porque sou simples, eu vejo as coisas no mundo de forma simples, e por ter esse dom, as vezes maldição, consigo compreender as entrelinhas de diversas relações apenas observando.

Certa vez ouvi da bela, “eu gosto de sua mente, mas seu corpo não me satisfaz”, quando ouvi isso eu percebi que o que ela queria dizer, ela disse que gostava da minha inteligência, mas eu não era bonito para ser considerado um parceiro, naquele momento eu sabia que eu seria apenas mais um amigo.

Mas eu não queria aquilo, eu havia me apaixonado pela bela, e queria a todo custo provar isso, e certo dia eu embobado em uma de nossas conversas filosóficas, deixei escapar por minha boca:

_ eu amo você!!

Silencio, o que de inicio me fez por um obsequio pensar, ela está pensando, desapareceu com uma frase:

_ você não me ama!!

Em seguida mais um silencio, minha mente tentou processar as informações, que em seguida foram detonados por uma gargalhada, ela riu, eu não sabia o que pensar, ou como agir, mas em seguida ela disse:

_você é como um irmão!!

Eu vi, naquele momento a bela, me rejeitou, disse não, mas em seu subconsciente, talvez por me considerar como um porto seguro, alguém com quem ela tinha certa afinidade, tentou consertar, “você é como um irmão!!”, isso não me feriu, mas o sorriso que mais pareceu com um deboche, alguns minutos depois me deixou sem palavras.

E eu fugi, não podia olhar nos olhos da bela, eu não sabia o que fazer, como me portar naquela situação, eu sabia no fundo do meu cerne, que ela já havia rejeitado o meu corpo, mas tinha alguma afeição por minha mente.

Eu quebrei, mesmo sabendo dos riscos, naquele momento, por um instante, reuni todas as forças e me confessei, mas eu já sabia que ela não me considerava um parceiro, talvez um conselheiro ou amigo, e ainda sim isso me machucou.

Por ser simples, e a vida inteira agir como um pateta, mesmo que inconsciente eu atraia muita atenção, mas tudo havia mudado, quando me apaixonei pela bela. Nos contos de fada eu via, que a bela amava a fera como ela realmente era, e na vida real não era assim.

Eu pensei, será que me apaixonei pela bruxa? Não sei, todas as nossas conversas, sorrisos, não poderiam ser falsos, e eu sabia que ela tinha me tornado seu primeiro amor, talvez!!

Quando mais jovem, ela aprendeu a cozinhar por mim, houve vezes que ficava fitando meu rosto, e quando eu fingia não perceber, e de relance olhava pra ela, ela fingia estar focando outra coisa, mas quando eu mudava o rumo do olhar, ela voltava a fitar em mim.

Será que isso tudo foi imaginação da minha cabeça? Será que isso só foram acúmulos de coincidências? Acho que não, mas talvez ela tenha desistido de mim, talvez ela viu que a fera não mudava, que a fera não se transformava em príncipe, talvez ela percebeu que essa fera seria para sempre uma fera.

E talvez eu seria mesmo, eu estava preso, trancado num quadrado de tempo e espaço, os anos começaram a passar e eu continuei imóvel, eu continuei estático, não me importava com o os dias, semanas, meses, anos.

Em meu interior, algo me dizia, “você está errado”, ainda sim eu permanecia imóvel, como se estivesse em transe, naquele momento eu estava pensando, pensando na vida, em quem eu era, e porque eu havia nascido, pensando em que direção eu deveria seguir, em minha mente, talvez pelo exagerado tempo de ócio, eu apenas divaguei e divaguei em pensamentos inúteis, enquanto o relógio passava, fui perdendo ali meus anos de juventude, mas para mim aquilo foi necessário, ou pelo menos eu penso que foi, embora muitos me veem como uma fera velha, eu me considero uma criança iniciando a puberdade, é difícil crer, mas para mim eu sou jovem, esquisito compreender, minha mente me vê como jovem, mas quando olho no espelho eu me assusto.

Sou uma fera, e ao mesmo tempo me sinto como uma criança, meu corpo não responde mais aos meus desejos, a minha cabeça, meu corpo não consegue correr, nem se recupera com a mesma facilidade, mas eu me sinto um "aborrecente".

Acredito que os anos que passei no meu casulo tentando me encontrar, me achar, me entender foram como meses, quando na verdade foram quase duas décadas, esquisito.

Eu acordo, todo dia com meus pais me chamando para almoçar. Em meu subconsciente, mesmo eles não estando ali, eu ouço tudo aquilo, é como se eu tivesse ficado preso, por quase vinte anos num espaço tempo aparte, e minha mente do nada voltasse a se mover.

Antes eu apenas memorizava os dados, dom que anos antes havia compreendido ter, memoria fotográfica, se bem que seria mais uma filmadora já que eu memorizava o que as pessoas falavam, por mim mesmo eu dificilmente lia os livros.

Ainda sim do nada meu cérebro que esteve sempre memorizando, parece que não pensava não agia, é como se fosse apenas uma parte de mim, mas não o meu todo, eu gastei quase duas décadas para resolver em minha mente uma charada, que alguns nunca resolvem enquanto vivos, e outros chegam bem próximos de resolver, mas morrem antes de conseguir.

Em minha cabeça a fera que me tornei, me vê como alguém capaz de fazer qualquer coisa, pois eu descobri a razão da minha existência, o do porque eu nasci, do porque eu vim ao mundo, mesmo sabendo que um dia, a morte me levara embora.

Eu sei hoje e tenho como convicção que estou certo, eu sei como as pessoas pensam, mas ainda falho em processar as informações cara a cara, eu vejo a situação e consigo escrever num pedaço de papel o que vi, mas falar, conversar acho difícil, pois as pessoas, processam suas informações de formas diferentes.

Cada um tem uma bagagem de informações próprias, um conhecimento e uma experiência própria, o que leva cada um a realizar determinadas ações com base naquilo que aprenderam ou foram treinadas para fazê-lo, é triste perceber que meu dom, é como uma maldição, eu consigo ver processar e escrever a informação, mas não consigo falar, me afirmar, eu ainda não tenho aquele olhar que a vida toda busquei ter, o olhar dos generais, e dos homens de poder, o olhar de convicção capaz de mudar o mudo, a seu bel prazer.

Creio que meu dom seja algo fenomenal, ainda sim eu invejo o dom que eu não tenho, o ato de atrair e fazer as pessoas me seguirem para onde eu quero que elas vão, sei as técnicas, sei como fazer, pois percebo, consigo digerir, ainda sim eu não sei fazê-lo e isso me torna cada dia mais impotente.

Quanto a Bela, eu a desejo, quero tê-la ao meu lado, mas ao mesmo tempo que sei que tenho que mudar a mim mesmo um enorme medo, medo que atinge diversas pessoas no mundo, e que todos sabem mas evitam de arriscar, o medo de quebrar a cara.

No meu caso, eu me confessei, dei o primeiro passo, minha mente já processou infinitas possibilidades, eu sei o caminho que devo seguir para alcançar o meu objetivo, mas para isso, sei que terei que me tornar o seu príncipe encantado, e eu temo isso no fundo do meu cerne, ao mesmo tempo que considero um desafio uma parede a ser ultrapassada, eu temo, temo por mudar a mim mesmo durante essa jornada, virar alguém que eu não consiga controlar, ou prever, e o ato de eu estar aqui escrevendo isso, seja a prova fatal de que no fundo eu sei que mudarei, e que preciso me lembrar do passado, de quem eu fui, do que eu fui capaz de fazer.

Preciso ter foco para alcançar meus objetivos, e isso não é uma tarefa fácil, eu preciso me aceitar como sou, e me amar por ser assim, preciso ter como objetivo aonde eu quero chegar, mas nunca me esquecendo do medo, tenho que usar o medo a meu favor, usa-lo como ferramenta de controle, usa-lo para vencer e ser vitorioso, preciso domina-lo e compreende-lo afim de atingir minhas metas, e acima de tudo preciso fazer tudo isso, sem esquecer quem eu sou, quem eu fui, e quem eu quero ser.

 
   
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