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“Estiagem” Grileira.
Sorrateira.
Esgueirando-se por entre as paredes,
Veio se achegando,
Dominando corpo e alma.
Alastrou-se entranhas adentro
E como se posseira fosse,
Em mim
A seca se instalou.
Dominou a revelia, os férteis campos
Que a mim pertenciam.
Com seus braços de fogo
Semeou a aridez
Até aonde alcançou.
Alcançou os arredores
De um vizinho Bom Senhor.
Provocou rachaduras
Nos riachos que secou.
Fez murchar a árvore cujo fruto era
O Amor.
Elaborou manhosamente, uma forma de ressecar
Os floridos campos
Aonde ia vez por outra
Habilmente colher, algumas dúzias
De pura ilusão.
Onde antes eu semeava roçados inteiros
De carinhos.
Para após colhê-los, cuidadosa, acomodá-los em meu regaço.
E ir distribuí-los por igual
Aos meus
Humanos amores.
Alastrou-se desdenhosa a seca
E os meus roçados,
Em caatingas transformou.
Foi tão rude essa seca,
Que um só cacto deixou
Onde pudesse abrandar a sede que dilacera a garganta
De meus humanos amores.
Não contente com tanto estrago,
Quis essa maldita seca
Escangalhar meu coração.
Fez murchar cada galho
Por onde passava a seiva chamada
Inspiração.
Trouxe consigo o mormaço
E espantou os pássaros
Da imaginação.
Desdenhoso cúmplice
Responsável
Por cada folha morta que veio ao chão.
Cada folha morta
Que o vento arrasta pelas minhas terras
Hoje inférteis
São as lágrimas que essa zombeteira seca
Impiedosa, desairosa
Impede que de meus olhos rolem
Para irrigarem a terra
Da qual eu retirava
Na medida exata das minhas necessidades,
Toda espécie de sentimentos
Destinados a manter ao meu lado,
Dia após dia
Em harmonia,
Esse meu vizinho
Bom Senhor
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