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RETORNOHá muito não se escreve...
Foi necessário o afastamento involuntário para que as emoções retornassem.
Não mais descontroladas e perdidas entre mil pensamentos.
Voltaram opacas.
Racionalizadas após o período de luto.
Não que alguém falecesse, além do ego.
Não que algo renascesse, além da realidade.
A permissão foi concedida após o retorno da sanidade.
Chegou fria, frente ao passado, liberta de qualquer culpa.
Renasceu isenta quanto à direção a ser tomada, livre de quaisquer amarras.
É outono para os demais e primavera para a percepção.
O mundo se manifesta sem questionamentos.
Não há o passado e os erros.
Não há o futuro e as incertezas.
Existe apenas o presente.
Há muito as rimas se foram...
Aquelas morreram, enquanto a loucura tomou formas materiais.
Veio o distanciamento do todo, o afogamento no desconhecido.
As portas para o subconsciente fecharam-se.
A solidão levou consigo a esperança.
O sofrimento ganhou vida e a consciência desapareceu.
Havia névoa durante a noite.
Trovões ressoavam durante o dia.
O inferno manifestou-se.
O vazio engoliu a alma.
Há pouco a escrita permitiu...
O desejo encontrou a fé, livre de quaisquer dogmas.
A esperança ressurgiu ante o desespero.
O ser evoluiu.
Não há musas ou obrigações.
Não há planejamentos e maquinações.
A matéria abalada pelas decepções do espírito tomou nova forma.
Esta engatinha como no passado, arrastando seus joelhos por novos planos.
Reaprende a falar palavra por palavra.
Expressa novos gestos e olhares amadurecidos.
Segue na contramão do mundo, fortalecendo-se, enquanto tudo desmorona.
Vê de longe o fim do medo e dos estigmas coletivos.
Sente no coração renascido a possibilidade de seguir viva.
Anseia pelo desencarne, como de costume, respeitando o caos circundante.
É primavera quando há outono.
Virá o verão durante o inverno.
Há pouco o homem controlou seu feminino...
Apenas observa sua batalha interior.
Revê o tempo sem o passado.
Distancia-se do futuro e de seus intentos.
As sílabas voltam a ser balbuciadas.
As palavras exigem novas interpretações.
Sinônimos não serão irmãos.
Antônimos não terão inimigos.
Ambos retornaram de mãos dadas.
Chegaram aquecendo o solo, desfazendo a neblina.
Limparam o ar, dissipando a tempestade.
Vieram em paz, como nunca antes.
Não são mais impuros.
Não desejam o mundo.
São apenas infantes.
Neste exato instante.
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