|
Entre o vinho e o batom Que faço com as marcas de batom
que você deixou na taça de vinho?
Apago? ...
Pra que volte a manchá-las outra vez?
Guardo na própria taça,
como insígnia, como relíquia?
Será de tanta valia
ter uma taça lambuzada de batom,
embebida em vinho tinto,
que tanto inveja enseja
a este vinho sorvido,
a esta taça manchada de batom...,
essa tanta tinta que pintou nossa tarde,
em cor, em viço, em sabor,
mesmo em tempo! ...
Visto que,
o tinto do vinho,
depois de aberto seu garrafal,
perdeu-se no sorver e no exalar-se em cheiros.
Visto que,
o cheio do nosso encontrar
que de casual se fez demorado,
se fez aclarado em todas as suas nuances,
mas,
deixou na fluidez do ar...,
mais que cor, mais que sabor...,
mais que tudo,
em um confuso e estonteante “Q”!
Assim,
o confuso tom
que mistura o tanino do vinho
com o taninado do seu batom
que agora enfeita a taça do seu sorver...,
emaranham-se em tal confluência
que é de fazer pensar:
qual o sabor do sorver do vinho?,
qual o sabor do batom sem vinho?,
qual o sabor do batom embebido em vinho?,
qual o sabor dos lábios sem vinho, sem batom...,
e sem os beiços da taça?
|
|