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PENSOU EM MIM? (CONTO)

Por Andrade Jorge

Pensou em mim? Essa era a pergunta preferida que Lilica fazia ao seu namorado, quando se encontravam. Ele respondia laconicamente: “pensei”. Mas ela insistia: “ pensou bastantinho ou bastantão?”. Ele repetia a mesma resposta: “pensei”.
Lilica que na verdade chamava-se Eliana, era uma moça bonita, simpática, romântica, sonhadora, vivacidade estampada no semblante, e dona de um sorriso encantador. Ela conquistava todos que conheciam-na porque também era muito prestativa, sempre solicita, daquele tipo “pau pra toda obra”. Com todos estes predicados, dons inatos buscou um curso onde se identificasse com a profissão, assim foi fazer Serviço Social. Seu namorado era o Carlos Henrique, que Lilica chamava carinhosamente de Cacá. Ele era oposto de Lilica, metódico, reservado, detalhista, e seu negócio eram as ciências exatas, calcular era com ele mesmo. Adorava matemática e física, e seu desejo era ser um cientista físico, para trabalhar em projetos espaciais. E estava estudando muito pra isso.
Quem conhecia bem Lilica e Carlos Henrique ficava se perguntando: “Como pode dar certo esse namoro?”Pois é, o amor tem dessas coisas, juntar os opostos. Mas na realidade os dois se davam muito bem, porque Lilica apimentava um pouco a vida dele, e ele colocava um pouco de razão na vida dela, que era de muita, mas muita emoção.
Mas havia uma coisa que incomodava Carlos Henrique, quando Lilica o encontrava e vinha com aquela pergunta: “Pensou em mim?” e depois “bastantinho ou bastantão?” Tinha vezes que ele perdia um pouco a paciência e respondia: “pensei, oras! Sei lá se foi bastante ou pouco, sei que pensei!” Lilica ficava toda chorosa e dizia:
___ “poxa amor, não precisa falar assim, só queria saber se pensou em mim”. E assim viviam os dois, mas ninguém duvidava que eram completamente apaixonados.
No dia do terceiro aniversário de namoro deles, combinaram que iriam jantar num restaurante chic e depois pra fechar a noite com chave de ouro (nesse caso era para abrir a noite), um luxuoso motel, afinal mereciam. E assim aconteceu.
O jantar foi maravilhoso, com direito a um concerto exclusivo de violino, champagne francesa, flores e tudo mais. Saíram e foram para o motel, que inclusive já haviam reservado. Estavam felicíssimos ao entrarem na suíte especial. Realmente a suíte era luxuosa, tudo de bom. Ligaram o som, musica romântica, começaram dançar apaixonadamente, rosto colado, corpo igualmente, foi aí que Lilica toda amorosa fez a famosa perguntinha:
___ “amor você pensou em mim hoje?” Carlos Henrique parou de dançar, olhou longamente para sua amada, e delicadamente pediu pra ela sentar na cama, e falou “Ah! Minha querida vou te explicar direitinho o quanto penso em você”

___ Li, o dia tem 24 horas, e eu penso em você 1 vez a cada uma hora, portanto são 24 pensamentos. Você ta acompanhando o raciocínio? Então, cada vez que penso em você fico pensando por 10 minutos, logo num dia penso em você 14.400 segundos, ou seja 240 minutos que transformados em hora teremos 4 horas. Isto significa, minha querida, que num universo de 24 horas, penso em você 16% do dia. Entendeu? Lilica balançou a cabeça dizendo que sim, estava estupefata com a exposição de Carlos Henrique. E ele ainda emendou: “ta vendo como penso em você pra caramba!” Lilica saindo daquele semitranse falou:
___ Poxa amor! Você foi fundo agora! mas gostei viu, agora sei o quanto você pensa em mim”“.
Abraçaram-se carinhosamente e o amor, desejo, paixão, tesão, fluíram e beijos cada vez mais ardentes foram sucedendo-se, e os corpos se entrelaçando. Até que Carlos Henrique, todo apaixonado, sussurrou no ouvido da amada:
___ Li o quanto você me ama?” Ela respondeu de imediato”.
___ Ô meu amor, te amo mais que a distância da terra a lua, só que elevada ao cubo.
Carlos Henrique deu um longo suspiro, e voltaram a se beijar novamente. Os dois já estavam chegando no ápice, no êxtase total, no momento supremo, ela gemia de prazer, e ele soltava uns “ah!”, “ééé”, “hum!” . Lilica notou que a performance de Cacá estava diferente, explica-se, diferente para melhor, muito melhor, seu amado estava simplesmente levando-a as nuvens como nunca houvera feito antes, não que as anteriores tivessem sido ruins, mas essa estava acima da expectativa. Como diria um personagem de novela: estava “felomenal”. Até que ela numa entrega total, gritou: agoraaa, agoraaa, agora amor.... e ele respondeu: “sim!” “ahhhh” e com a voz embargada de paixão, disse: ___ “amor à distância é de 56 quatrilhões, 800 trilhões, 235 milhões de kilometros entre a terra e a lua, elevada ao cubo, agora sei o quanto você me ama”. E a beijou ternamente. Lilica depois de se recuperar totalmente disse toda apaixonada:
___ Nossa amor você foi demais! O que você falou mesmo sobre quatrilhões, trilhões?
___ Ah! Querida cheguei no resultado da questão que você me falou sobre a distância entre a terra e a lua só que elevado ao cubo, e disse que agora sei o quanto você me ama.
___ Ô amor você já sabia esse resultado?
___ Não sabia. Calculei enquanto a gente fazia amor gostoso.
Depois daquele dia os amigos de Lilica estranharam o fato dela sempre estar lendo livros de física, matemática, e quando perguntada respondia:
___ Nunca se sabe quando iremos precisar de uns exercícios.... as ciências exatas auxiliam em tudo, em tudo pode crer! E saia com aquele brilho no olhar.

Do livro "Contos, En...cantos&Peripécias" (Editora Oficina Editores/Rio de Janeiro)

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