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UM AMOR QUE VENCEU

UM AMOR QUE VENCEU
Durante anos, Samir, um Libanês que teria por volta de 55 anos, fora “mascate” como a maioria de seus conterrâneos que viviam por aqui. Ninguém poderia afirmar com segurança a cor de sua pele, pois o sol o havia bronzeado, mas com seus 1,80 de altura, magro e com os olhos que lembravam a duas Jabuticabas, fartos cabelos negro, bem falante embora com sotaque, conquistava e arrancava suspiros de suas freguesas.
O trabalho era árduo, caminhava ao lado de duas mulas que carregavam baús onde o comerciante itinerante transportava suas mercadorias, e se deslocava por todas as pequenas cidades do Triangulo Mineiro.
Como resultado de seus esforços e realizando um antigo sonho, Samir em uma segunda feira 30 de junho de 1969, inaugurava sua primeira loja em Dois Morrinhos, onde morava com a esposa.
Ele sabia que a mudança seria trabalhosa, suas clientes eram de varias cidades próxima dali, mas estavam acostumadas a comprar em suas portas sem dificuldades.
Por 15 dias o Libanês abriu e fechou sua loja com pouquíssimas e até nenhuma venda, a sua cidade teria apenas o dobro de moradores das demais que ele diariamente as visitava daí resolveu atuar em duas frentes.
Chamou Nayara sua esposa e combinou que por alguns dias ela ficaria à frente da loja e ele voltaria a mascatear.
Nayara era uma mulher de pouca saúde, também teria a idade próxima de seu esposo, mas diferente deste era de pouca estatura e bem robusta, e como praticamente apenas conversava com Samir em seus idiomas natais ela tinha muita dificuldade com o Português e isto também atrapalhava os negócios. Por isso deixou bem claro que ficaria na loja por pouco tempo.
Na volta de suas antigas atividades andando de cidade em cidade, oferecendo seus armarinhos um dia em Pitu, um distrito de Dois Morrinhos encontra uma família bem pobre. É quando ele conhece Selma e sua filha Cleide Maria, uma menina com 14 anos de idade.
O marido de Selma havia se mudado para Belo Horizonte em busca de emprego e uma vida melhor para os seus, mas a mais de 90 dias não mandava noticias.
O mascate condoído com a situação precária que estas viviam e querendo ajudar, pergunta se Selma permitiria que sua filha fosse trabalhar em sua loja, que teria um bom salário e substituiria sua esposa nessas funções.
Devido à penúria de ambas, que beirava a estrema miséria ao ponto de na maioria das refeições elas diluíam um caldo de carne em tabletes com água e eram essas as suas únicas refeições, concordam, Samir adianta algum dinheiro para Selma se manter e levou a menina para a sua cidade.
No fundo da loja, havia uma pequena casa que servia de deposito de suas mercadorias e foi onde ele precariamente acomodou Cleide Maria, e ainda assim o espaço era maior do que esta ocupava em sua própria residência.
Nayara com seus antigos hábitos religiosos usava lenços na cabeça e roupas escuras, raramente saia, e eram poucas as pessoas que a reconheceriam longe da loja. Cleide Maria passava dias sem qualquer contato com ela.
Na loja a menina surpreendeu, tornou-se boa vendedora, sempre sorridente, dobrou rapidamente as vendas, mas eram os rapazes que sempre rondavam por ali para ver Cleide Maria que era uma morena lindíssima, de olhos verdes, cabelos longo sempre preso e muito gentil com a freguesia.
Samir até então mal parava em sua cidade, passou a demorar-se mais tempo na loja e sempre era visto conversando com sua vendedora.
Passados dois meses e já muito próximo da menina, Samir faz a ela uma proposta “podre”, mas na opinião dele, diante da situação miserável dela e de sua mãe irrecusável.
Oferece comprar a casa que sua mãe mora e dar a ela, bem como muito dinheiro, em troca de um filho com Cleide Maria.
A adolescente com tão pouca idade, assustou-se com a oferta, queria assim ir embora imediatamente, mas o libanês tinha seus argumentos.
Alega ele que Nayara sua mulher nunca pode ter filhos por problemas de saúde e ele não queria morrer sem deixar um herdeiro.
A palavra herdeiro balançou a menina, esta sabia que tendo um filho com aquele homem a sua criança seria rica e bem cuidada.
Temia pelo desgosto que daria aos seus pais, principalmente a sua mãe Selma, pois esta era muito religiosa.
Mais dois meses se passaram e Selma recebe uma carta de seu marido.
Ele estava preso, pois tomado pelo desespero pelo fracasso na tentativa de mudanças em suas vidas, havia furtado uma loja.
Quando essa noticia chegou aos ouvidos de Cleide Maria, esta se desnorteia e decide; ter um filho de Samir resolveria para sempre essa miséria.
Inicialmente as tentativas resultam sem êxito. O libanês já com 55 anos e diabético, ela novinha e sem nenhuma experiência, dos encontros amorosos apenas sexo.
Finalmente ela engravida, e por três meses Samir a mantêm por perto, passado esse tempo, contrata outra vendedora e leva a moça e seu filho no ventre e Nayara sua esposa para morar bem longe dali em outra cidade.
O tempo passa e é chegada a hora da criança nascer.
Samir leva Cleide Maria para um sitio onde Gemma a parteira da região lá estava com outra parturiente também muito jovem, e ambas aguardam o trabalho de parto.
Dias depois, nasce um menino com 3 quilos e meio e 50 centímetros, forte e saudável.
O libanês chega ao sitio dois dias depois. Cleide Maria já tinha condições de voltar para sua casa, mas ele lhe da de presente uma viagem para Uberlândia. Cidade que ela deveria ficar até seu reguardo acabar já que voltaria a morar com sua mãe Selma que nada sabia de tudo isso.
A menina, por saber que não iria criar aquela criança, preferiu não ver seu rosto, nem mesmo enquanto o amamentava, temia pegar amor por ela.
Samir leva o bebe para casa. Nayara tinha conhecimento de todo plano e já havia providenciado leite e fraldas para recém-nascido.
No dia seguinte eles todos vão à Uberaba, a maior cidade do triangulo mineiro, levam o recém-nascido para consulta médica, assim bem orientados criariam o filho de Cleide Maria sem ela por perto, aproveitam a estada, vão até o cartório e lá registram Omar, nome escolhido por Nayara para a criança, como legitimo filho do casal, declarando que o bebe havia nascido em casa.
Mas o destino reservara para Samir surpresas desagradáveis, ele descobre ser portador de um tumor maligno de difícil tratamento bem como de pele, já que suas andanças ficou muito exposto ao sol.
Rapidamente fecha sua loja em Dois Morrinhos e vai morar em Uberaba onde havia melhores recursos para tratamento medico, e mesmo bem cuidado vem a óbito 6 meses depois.
Nayara e Omar agora com cinco anos de idade passam a morar definitivamente naquela cidade, ficariam bem longe de Cleide Maria e esta mesmo buscando jamais acharia a ambos, evitando assim reencontros indesejáveis.
20 longos anos se passaram.
Omar havia se formado Engenheiro Civil, continuava solteiro e morando como sempre apenas com sua mãe.
Nessa mesma época, Cleide Maria recebe visitas de pessoas oferecendo objetos de pouca utilidade ou valor, mas fazendo muitas perguntas sobre ela. O que ela agora já uma senhora com 40 anos de idade não sabia e que estes eram detetives contratados para localiza-la.
Nayara que nunca teve boa saúde, e sabedora de que não teria uma vida mais longa, imaginava ninguém seria mais indicada e melhor para cuidar de Omar que sua mãe biológica, embora não soubesse se um dia revelaria a ela ou não toda verdade.
Até que outro detetive, que nunca a havia procurado o faz, mas com uma proposta de trabalho. Ela teria que se mudar para Uberaba e cuidar de uma senhora e seu filho já adulto, e que haviam colhido ótimas informações sobre ela por isso o convite.
Selma já havia falecido há anos e Cleide vivendo só, pois seu pai nunca mais voltou resolve aceitar a proposta de emprego.
Aluga a casa que agora já lhe pertencia por herança e se muda.
A recepção na casa foi das melhores, tanto Omar como Nayara se mostram gentis e carinhosos com ela, que não reconheceu sua antiga e agora nova patroa, esta havia envelhecido muito, não usava mais lenços na cabeça e os cabelos todos branco não lembravam em nada a mulher do falecido Samir.
Já Omar, estava até mais alto que Samir, o corpo lembrava o dele, mas a pele era bem mais clara, seus olhos verdes, lábios carnudos, e um sorriso encantador o tornavam um atraente varão. Culto, falante, simpático e brincalhão.
Nayara pouco falava, alegava nunca ter aprendido Português, direito assim evitava conversas indesejáveis.
Cleide Maria seguia bonita, até mais formosa. Seus seios permaneciam iguais ao seu tempo de jovem, definitivamente era linda.
No mesmo mês em que chegara a casa, Omar pergunta a ela se sabia dançar musicas lenta, pois na semana seguinte haveria um baile no clube onde apenas tocariam boleros e samba canção.
Sorrindo ela responde._ Se tem algo que faço de bom é dançar.
Assim passam a ensaiar os passos diariamente.
Omar, jovem e fogoso, apesar da diferença de idade ele 25 ela 40, sente forte atração pela parceira. O calor do abraço de Cleide durante a dança mexe com o rapaz, que se excita, mas procura não demonstrar, contudo ela percebe e acha graça naquilo tudo.
Já no baile a noite segue animada pela boa musica, eles riem e bebem despreocupadamente. No retorno a casa, ambos já tendo abusado da bebida iniciam uma dança final, sem musica e sob a luz das estrelas.
Omar rouba um beijo de Cleide, tudo muito rápido e ela claro leva tudo em conta da bebida, mas ele não.
A partir daquela noite, o rapaz se mostra mais presente, procura conversar com a governanta o maior tempo possível.
Em uma dessas noites ele pede para dançar novamente com ela, coloca para tocar a musica La mer de Ray Coniff.
No meio da dança, ele a abraça forte, para e olhando firmemente nos seus olhos diz: _ Preciso lhe dizer algo importante.
_Diga responde ela.
_Estou perdidamente apaixonado por você.
Ela ri, mas desta vez não podia atribuir tal declaração à bebida. Era consciente, era real, um menino de 25 anos se declarando a ela com 40.
Cleide se afasta, sem nada dizer, mas as palavras mexem com ela, em sua mente tudo era muito absurdo.
Na noite seguinte Cleide esta deitada, ainda acordada escuta a porta ranger. Era Omar entrando em seu quarto, ela finge estar dormindo e o rapaz fica ali contemplando sua amada por horas sem nada fazer.
Na noite seguinte o fato se repete desta vez ela simula acordar e pergunta.
_o que você faz ai sentado?
Omar se aproxima e lhe da um beijo ardente de paixão.
Ela faz que resista, mas na verdade esta adorando tudo aquilo.
Cleide Maria nunca mais depois de Samir havia namorado com ninguém. O fato de ter tido uma criança e não poder cuidar dela nem vê-la crescer havia bloqueado seus sentimentos, mas se entrega ao rapaz, que se amam loucamente durante toda aquela noite.
Por meses seguidos as visitas noturnas aconteciam e a cada encontro era mais ardente. Pela diferença de idade entre eles sempre que faziam amor ela em êxtase o chamava de “meu bebezinho”.
Certa noite, Nayara, por mero acaso, nota a porta de Cleide apenas encostada, vai até lá e vê o casal se amando loucamente.
Um turbilhão de maus pensamentos invade a mente da anciã, mas naquele momento nada faz.
Na manhã seguinte ela chama Omar e lhe incumbe de ir tratar de negócios na capital do estado, esses seriam resolvidos apenas com um telefonema, mas ela queria ver o rapaz longe dali.
Ela precisava ter uma conversa com Cleide Maria sem ele por perto.
Quando Omar viaja Nayara chama Cleide em seu quarto onde ninguém ouviria o tema e o conteúdo da prosa.
Nayara inicia com um tom de voz bem calmo e diz a governanta: _ Você teve um filho e o entregou para ser criado por outras pessoas?
Apavorada com a pergunta Cleide responde
_Sim, mas isso foi há muitos anos atrás!
_Sei bem disso, e prosseguiu _ Você tem noticias dessa criança?
_Não, eu não a vi nem no dia em que nasceu responde Cleide.
Nayara segura forte a mão de Cleide, e diz bem baixinho.
-Esse seu bebe é Omar.
Como pode afirmar uma coisa dessas, pergunta Cleide desesperada e arremata _Estou grávida, espero um filho dele.
_Sempre soube de tudo. Meu Marido Samir nunca me deu um filho, mas me deu o seu.
¬Você esta delirando, retruca Cleide.
_Omar só voltara dentro de três dias, nesse tempo vá, procure por Gemma, a parteira que fez o seu parto e pergunte tudo a ela, e quando souber e confirmar o que lhe revelei peça a ela para livra-la dessa criança que você tem no ventre, o sangue igual trará consequências serias para esse seu bebe.
Cleide Maria, angustiada, agoniada, desesperada vai até onde morava Gemma, esta também havia se mudado de chácara, mas finalmente a encontra.
A parteira mesmo envelhecida reconhece Cleide e lhe pergunta.
_O que vem buscar aqui menina depois de tantos anos, pergunta Gemma.
Saber o destino e o paradeiro de meu filho.
Gemma, calma, com as mãos tremulas pela idade avançada pede a Cleide que se sente, e conta a ela tudo o que ela queria saber, o destino do neném.
No dia seguinte já de volta para Uberaba, Nayara já a aguardava ansiosa e de imediato pergunta.
_E então encontrou a parteira?
_Sim responde Cleide.
_E o que ela lhe disse?
_Que Omar é a criança que Samir trouxe para você criar.
_ E o bebe? Livrou-se dele?
_Não, ela disse que a gestação esta muito adiantada, e nada mais pode ser feito.
¬E o que você vai fazer agora? Pergunta Nayara
_Tenho que ir embora daqui rapidamente, mas não tenho para onde ir, não posso voltar para minha cidade grávida, sem dizer quem é o pai.
É quando Nayara, como homenagem ao seu falecido marido argumenta.
_Sei que meu marido ficaria feliz por saber que eu amparei o seu neto, meu tio avô, já viúvo faleceu recentemente e deixou como herança um bom hotel em Uberlândia, os nossos parentes no Líbano abriram mão da parte deles em meu favor. Como fatalmente essa criança precisará de muitos cuidados por ter o mesmo sangue, eu vou doar esse hotel para você, a única condição é jamais revelar esse segredo a Omar.
Combinam que Cleide recebeu uma oferta irrecusável de emprego e se foi.
O que Nayara jamais soube é que os “amantes” já haviam conversado por telefone.
Omar 15 dias depois, vai até Uberlândia, se hospeda no hotel que Cleide Maria agora é a dona, na recepção se intera que já havia uma reserva em seu nome e o quarto já estava arrumado.
Já no quarto, aproveita para tomar um banho, e não percebe quando Cleide entra por uma porta lateral, espalha flores por todo aposento.
Vestida apenas com um baby doll preto, sem, calcinha, com um dos seios saltando as suas poucas vestes a mostra, aguarda por seu amado deitada na cama.
Omar sai do banho, e se depara com o largo sorriso de Cleide, joga a toalha para o lado, e inicia uma longa noite de amor entre ambos.
Mais tarde, Cleide ainda ofegante, com o coração acelerado fecha os olhos e em pensamento relembra a conversa que teve com Gemma a parteira. Inicia lembrando o momento que ela narra detalhes de seu parto.
_Menina, eu sabia que você não criaria aquela criança, pior ainda a outra menina que lá estava é a minha sobrinha que ainda era mais jovem que você, e sem condições alguma de criar um bebe. _Os partos aconteceram com uma diferença de minutos, seu neném nasceu morto, e o dela saudável, o turco havia me dado muito dinheiro para levar uma criança, assim, não tive duvidas eu as troquei, a que ele levou é meu sobrinho e não o seu filho, se formos ao sitio onde eu morava lhe mostrarei onde enterrei o seu bebezinho.
Nesse exato momento Omar com um beijo no rosto faz Cleide abrir novamente os olhos e lhe diz.
_Estava com saudades de você e de ser chamado de seu “bebezinho”
Cleide abre um sorriso largo e comenta.
_Nunca mais vou lhe chamar de meu “bebezinho” agora você será e para sempre o meu “bebezão”
Passam a se encontrar semanalmente, até que meses depois Nayara falece.
Omar se muda para Uberlândia, e como o filho de ambos já havia nascido, e por homenagem ao homem que na visão de Cleide mudou a sua vida para melhor, o batizou como Samir Neto.
Cleide Maria, procura sem que Omar saiba pela sua verdadeira mãe, pois quer oferecer a ela um emprego onde cuidaria de um casal e um filho ainda bebe.

FIM – Será mesmo?
Escrito por Tito Cancian
italianodeoderzo@hotmail.com

 
   
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26/03/2018 11:19:01
O tempo e a vida, encontros e desencontros. Destino ou coincidência. Texto bem escrito, nos faz viver a história. Parabéns!!!
Comentado por: CLÁUDIO JOAQUIM DOS SANTOS BRAGAData Cadastro: 26/03/2018 11:19:01

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