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LIVROS E LOMBADAS“Nos livros / as lombadas / riem de nós / como nelas descobrir /
suas verdades? // Nos livros / as lombadas / nos cansam /
como estivéssemos a subir / andar por andar tentando descobrir /
nos segredos do último pavimento / o que está dentro de nós.”
(Pedro Du Bois)
Vocês já notaram que as pessoas quando entram em livrarias voltam-se apenas para os livros com lombadas? Nem percebem os sem lombadas. Até porque, não temos cultura, nem tradição, para considerar o livro apenas pelo seu conteúdo.
A principal parte de um livro não é o significado das palavras? É interessante, porque sempre pensei que a leitura se desse através do gosto pela literatura. Porém, dei-me conta de que muitas pessoas procuram livros para comprar através de dicas de revistas, da aparência e do que está na “moda”. Não é justo, muitos escritores brasileiros, bons, não têm acesso a essa divulgação e nem são alcançados pela mídia.
Conheço a história de um casal apaixonado pela literatura. Ele, poeta, edita seus livros de forma oficial: ISBN, ficha catalográfica; ela confecciona as capas dos livros em uma impressora HP, simples. O engajamento deles é tão grande que contagia a todos que estão por perto. Seus livros não são comercializados, talvez, por não terem lombadas; são doados, distribuídos em bibliotecas, colégios e entre os amigos. O retorno desse trabalho é gratificante, esperançoso e prazeroso.
Um dia, esse escritor resolveu participar de concurso de poesia, em São Paulo, com a apresentação de um livro, foi premiado com o primeiro lugar, reconhecido por mestres em literatura. Só então teve o seu primeiro livro com lombada.
Por incrível que pareça, nem ganhando o concurso e sendo divulgado, tornou-se conhecido; mesmo assim, não foi suficientemente mostrado para merecer a atenção da mídia. Isso não o abalou. Ele continua firme e forte, confeccionando artesanalmente os seus livros e, também, mantém a sua luta literária, escrevendo e divulgando seus textos com paixão.
A esperança persiste, como em Manoel de Barros, o que não o faz desistir. Manoel, no início da carreira, também confeccionou artesanalmente seus livros, com a ajuda da sua mulher; teve a persistência para manter-se poeta até ser descoberto pelos editores. Hoje é consagrado e tão inspirador que, com a sua poesia, leva-nos ao “estado de passarinho”, como no seu poema: “A poesia está guardada nas /palavras – é tudo que sei /... Poderoso para mim não é aquele que descobre o ouro...”
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