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NA CONTRAMÃO: A DESCULPA

Muitas pessoas andam na contramão, carregadas de desculpas. Não conseguem se desamarrar para se livrarem de inventar desculpas para tudo e a todo o momento.
Buscam a nudez da palavra para o fato, sem se preocupar com o ato, com o acontecido: fica a espera sob a janela com os nervos à flor da pele.
A tristeza é descobrir que essas pessoas passam do ponto da verdade e investem na desculpa, sem sobressaltos, ao arrulharem justificativas para os seus gestos. Nas palavras de Wislawa Szymborska, “Repenso o mundo segunda edição... / aos idiotas o riso / aos tristes o pranto...”.
Amarrados nas desculpas de ontem, não vivem o hoje. Tornam a conversa vazia como se estivessem enredados sem honra e sem compromisso; como se trabalhassem apenas por serventia e não por conveniência e convivência. Invadem o campo da ilusão e tornam seus caminhos obscuros. Para Wislawa, “... que da treva emerge e na treva some. //... perguntas a postergar e iluminações tardias... / tinha que ver claro, antes que a claridade chegasse, / e ouvir toda voz, antes que ela se propagasse. // O bem e o mal...”.
Quem se amarra em desculpas, perde a ética e a moral, como se isso o pudesse trazer-lhe benefícios próprios; por isso cobrem seus rostos com a máscara da inverdade e não da vergonha. Jorge Ventura questiona, “... Duas faces / dois disfarces. / Por que sou vários? / Porque sou diário”.
Por quê? Para quê? É perplexo presenciar a vida amarrada em desculpas como revelação do ser sem rumo e, quem sabe, de que no impulso o amanhã poderá desvelar a verdade frente a uma desculpa. Luiz Otávio Oliani reflete, “Como posso resgatar / o que não existe em mim?...”.
Somos como as flores, precisamos colorir o todo para renovar as sementes e acreditar que a verdade vale para todos. Questionar os fatos para responder sem recortes e enfeites. Usar luvas para proteção no saber que o sangue que corre nas veias é vermelho. Segundo Maiakóvski, “o difícil é viver a vida e seu ofício”.

 
   
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