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Arte, frustação, Galinha Preta e o Nirvana. Não era Não.Ser famoso, desejo de infância de Nicolas, sonhava que um dia seria admirado chamado de mestre, seu nome escrito nos livros de história como um grande criador, um herói. Trabalhou, estudou, evitou amigos eram perca de tempo. Focou no que era importante, incansável. Esforço inútil o brilho se escondia, tudo que fazia era superficial.
Piscou, o tempo passou, aniversário de 50 anos, sozinho.
A manhã estava melancólica, sem sol, neblina e frio. Levantou da cama e sentou na mesinha velha que sempre tomava seu café, forte.
Respirou fundo e como um filme passando por sua mente, lembrou de algumas criações antigas. Em quanto admirava, Vozes ferozes interromperam a contemplação.
-Malditos críticos.
Sussurrou sem terminar.
Suas análises reverberavam, o ensurdecia.
Se sentia um fracassado, todos esses anos e jamais tinha conseguido uma crítica de aprovação.
Um dia acordou decidido, chega de agradar.
Colocou o incenso de mirra de um lado vinho do outro, fechou os olhos, inspirado.
Capas de criatividade iam aflorando, mas o desejo ainda estava lá, queria agradar, não sabia quem ou o que, mas disso precisava se livrar. Irritado pegou a mesa e jogou ela para o lado, com força, tudo no chão. Ainda ofegante caminhou até a estante, pegou o jornal do dia anterior e foi direto à ultima folha, um quadrado em destaque, pai de santo Seu zé. Um pacto decidiu fazer. Acendeu vela matou galinha tomou banho de cachaça.
Dia seguinte, não podia acreditar, era outra pessoa, um copo vazio esperando para ser cheio de luz e ideias, não se importava com nada, não julgava, impulsos passavam livres por seu corpo, era uma máquina sendo usada pelas musas, sua arte era pura, frenesi sem apego, a obra em si já bastava.
Em quanto criava entrou em um sonho lucido, viu seu próprio corpo no alto de uma montanha, olhou para baixo e viu a fama, elogios, dinheiro e poder. Sorriu, nada disso importava, contemplou o horizonte. Voltou em si, sentou e criou, o tempo deixou de existir. Estava inteiramente vivendo o presente da criação.
Silencio.
Algo bate forte na janela, interrompe sua experiência. Levanta mais rápido do que seu desgastado e sedentário corpo estava acostumado, sentiu seu joelho estralar, olhou assustado em direção a janela, um pássaro morto, partes de seus órgãos ainda grudados no vidro deslizam deixando um rastro de sangue, Nicolas se aproxima, lápis em uma mão, cigarro na outra. Um trago profundo. Calmo. Destrava a janela, um pequeno esforço e abre, retira o resto do corpo do animal que repousa em suas mãos. Aplausos ressoam pelo quarto, uma lagrima cai cortando seu tímido sorriso.
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