“Entendi que sem tempo não há movimento
(ocupação de diferentes lugares em diferentes momentos).”
(Jorge Luis Borges)

Sou obcecada pelo tempo. Nunca sobra tempo, sempre falta. Não há tempo suficiente para as coisas importantes porque trato a vida como ponto de partida e não de chegada. Digo SIM e o tempo “leva a culpa”, enquanto eu assumo os riscos.
Vivo excessos de “sim” e, com o tempo, vejo que essa não é a melhor opção. Cada vez que olho para o relógio sinto diminuir a minha satisfação; tenho a necessidade de me apressar, porque estou preocupada em confiar na vida. É paradoxal usar o tempo como medida impeditiva de me conectar comigo mesma; só penso em cumprir prazos e ajudar os outros.
Mas, de outro lado, tudo posso lembrar, recordar a tempo quando cantores e letristas me deixam como recompensa o fundamental para continuar em meu ritmo de vida, mesmo que nele não haja “muito” tempo para a realização de meu potencial.
A expectativa permanece quando relembro momentos, como nas letras de Chico Buarque, que marcam tempos sombrios se misturando com a alegria da inspiração. Chico me coloca em escolhas diferentes e ao mesmo tempo desesperadas, como na canção Geni, “... Quando vi nesta cidade / Tanto horror e iniquidade / Resolvi tudo explodir / Mas posso evitar o drama / se aquela formosa dama / Esta noite me servir...”, demonstrando um período de descontentamento e desentendimentos.
Já na letra de Terezinha, demonstra situações difíceis de acreditar que aconteçam, nas quais a melhor defesa é o “não”, “O primeiro chegou / como quem vem do florista / ... Me encontrou tão desarmada / Que tocou meu coração / Mas não me negava nada / E assustada eu disse não...”
Muitas vezes digo “sim” quando desejo dizer “não”, o que acontece porque faço a vontade de terceiros, para ganhar tempo e encontrar meu verdadeiro caminho, mesmo que inicialmente me submeta ao capricho dos outros. Preciso rever meu comportamento em relação ao passar do tempo, para conseguir me expressar e ter a coragem de dizer “não”!
Muitas vezes, associo o tempo como forma de compensar a falta de alguém, quando sinto saudades dos “bons tempos”. Só assim tenho liberdade para sonhar junto com o Chico Buarque, na letra de Lígia, “... E quando eu lhe telefonei, desliguei foi engano / o seu nome eu não sei / Esqueci no piano as bobagens de amor / Que eu iria dizer, não... Lígia, Lígia...”
Em tempo, olho para trás e vejo que dizer “não” é lutar pelos meus sonhos, verdades, certezas, convicções e filosofias. Dizer “sim” para mim mesma!