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PEDRO DU BOIS: em prosa e poesia“Sento e escrevo / penso no que escrevo / no que não consigo escrever. // Minha vida segue / indiferente aos meus escritos. // Releio o texto / procuro encontrar / tudo o que sinto. //
Minha vida para”. (Pedro Du Bois)
Desvelar a palavra de Pedro Du Bois é estar embebido de poesia. É se sentir engajado em como o poeta vive a sua vida na literatura. Em outras palavras, é cantarolar, suspirar arte, cuja beleza o traduz em cada texto, “... A lucidez contém luzes enfeitiçadas de verdades. / A lucidez é o meu cansaço”.
Não me furto em dizer que a escrita de Du Bois é a da contundência, fluidez e precisão, e não apenas pelo pendor da escrita sagaz e moderna, como ele se refere, “Aprendi com Borges a bifurcar os caminhos. Ir e voltar. Não ir, e mesmo assim voltar”. Ele consegue colocar ganchos que dão o que pensar, fazendo-me refletir sobre a importância dos problemas existenciais. Para Danilo Neuhaus, “Passear pelas gaiolas do Pedro é uma maneira de descobrir o poder das nossas asas e as razões do nosso triste canto. Passeando por esses versos vamos reconhecendo aqui e ali as gaiolas que nos cercam e que talvez um dia possamos abrir”.
Du Bois se redescobre escritor com expressões sedutoras que designam seus poemas: “A mão risca as palavras e delas me alimento na avidez com que sou consumido em vida”; dignifica a poesia com a capacidade que tem de observar e estender o pensamento e o coração aos fatos, e os explicar à luz do homem.
Pedro registra diversos livros publicados artesanalmente como editor-autor, com distribuição gratuita. O seu primeiro livro comercializado foi Os Objetos e as Coisas, pelo qual recebeu o prêmio literário Asabeça, SP, 2005. O segundo livro, A Criação Estética, foi publicado em Portugal pela editora Corpos em 2009. Ainda, em 2013 publicou O Senhor das Estátuas, pela editora Penalux, SP. Os livros de poemas Brevidades e Via Rápida, em 2012, Iguais, em 2013, e o Em Contos em 2014 e em 2015 Tânia, foram publicados através Projeto Passo Fundo, RS. Ainda em 2015, foi publicado pela editora Sarau das Letras, O livro Infindável e outros poemas. Assim, suas publicações de versos cortantes e reflexivos, numa poética de força e originalidade: “Não há / como roubar / o tempo / que não / nos pertence”.
Observar e registrar são processos diferenciados, em que o autor demonstra nos registros como únicos ingredientes da sua escrita; são na verdade necessidades, enquanto a observação se constitui pela qualidade inata do pensamento ante os fatos, além do domínio técnico e da beleza, a certeza do objetivo alcançado através de processo criativo, sensível e emotivo. Como escreveu Manuela Dipp: “A poesia de Pedro não espera por ele, nem Pedro penseiro espera a poesia. Eles simplesmente encontram-se num ponto lúdico de convergência. Pedro não brinca com as palavras, Pedro as entretém, nesse interminável jogo chamado literatura”.
O poeta registra e revela o que sente e do que participa. É onde Pedro se inicia em contos, formando uma narrativa que seduz a nossa imaginação, com o livro Em Contos, 2014, também através do Projeto Passo Fundo, RS.
Seus textos permanecem por que ele olha o homem sobre várias perspectivas, mas, de forma semelhante, embora opte por retratar a vida, mostrando a força literária em prosa e poesia. As palavras de Pedro elevam o pensamento, nos enriquecendo em prosa e poesia. Elas não silenciam, falam. Como comentou Jorge Geisel, “Com a tua poesia basta o silêncio, a reflexão como aplauso à obra”.
Entre tantas obras, cito como exemplo: o LIVRO DA TÂNIA, que segundo Fernando Andrade, o amor “é sempre o motivo mais profícuo a inspirar os poetas.” E, ao meu lado, tenho Pedro, o poeta que escreveu o Livro da Tânia, publicado artesanalmente, como editor-autor, em homenagem ao nosso amor. São poemas que marcam momentos importantes e dão voz ao nosso companheirismo. Costumo dizer que para amar é preciso receber amor.
“Não escrevo / Tânia / escrevo tânias / tantos são os anos / compassados // junto as letras / o nome leve / solta o perfume / adocicado // sempre é o início / onde os corpos se confundem / nas descobertas // no final da tarde / na tranquilidade da casa / olho-te / como fosse o dia / do primeiro olhar entrelaçado”.
O livro é festa que celebra o nosso amor ao revelar o segredo da longa e eletrizante vida, ao buscar na literatura o ardor da nossa vida, por que retenho o sopro do reflexo intenso das palavras, sempre presente na sombra do seu olhar, onde desvela meu sigilo e transfigura o meu olhar, dando sentido à nossa vida.
“Tua proximidade insta o corpo / cúpida razão para me fazer bonito / em perfumadas roupas de domingo / / tens a magia com que despertas o sexo / adormecido sonho de outras épocas // chega no que traz no ar: / próprio o perfume e o passo / leve gesto de longas horas // tens o murmúrio dos passados / respeitosamente abertos em espaços // tua proximidade acelera o canto / desencanta o tempo / ilumina o momento: / és deusa do começo trazes a luz / alva e alba era de chegadas // sou súdito igual que presencia / em ti a estrela e a guia / corpo de mulher desenhado ao tempo.”
Outro é o Tânia, que é intenso, ousado, sonhador e romântico. Pedro, com seu talento, reflete cenas ao descrever a nossa história construída com paixão, desejo e cumplicidade, ingredientes que fazem a diferença em nossos dias.
De que vale a vida sem carinho? Fascinada, encontro a desordem interior vinda para a ordem de fora, onde a vida se reflete na arte. O que sei do amor liga o impulso que me leva à paixão no simples estar em sua companhia; o simples estar de mãos dadas na tarde; o sorriso, o toque, a palavra e o perfume. Não há pressa, apenas penso como gostaria de ficar parada como em um beijo. Assim, classifico a vida como emocionante leitura que não perde o encanto e que me permite acreditar que possa existir tal literatura, como poder transcendental do amor.
“No encontro / esqueces o tempo / conversas // teu sorriso / atravessa o tempo / em que os sérios / ficam presos // teus gestos / traduzem a beleza / com que os sinos / embelezam as torres // leve o hálito / traduzindo o corpo / composto em amores // conversas teus assuntos tantos / enquanto os olhos me procuram / como sempre estou ao teu lado.”
Defendo que o amor (o nosso amor) é exercício de vida com o que – ainda - podemos romancear o mundo.
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