|
CONSTRANGER & ser CONSTRANGIDO“Constrangemo-nos porque podemos fazer literatura
em qualquer lugar e não fazemos”
(Pedro Du Bois)
Sempre nos preocupamos em não constranger, nem ser constrangido, o que vale para aprendermos e compreendermos a vida sem sermos percebido. Aprendemos com o erro, isto nos constrange? Ter dúvidas é constrangedor? Carregar o livro erótico de Carlos Higgie constrange as pessoas que olham, e não quem o escolheu, por quê? Nas palavras de Mafra Carbonieri, “Não há escritor maldito. /Há escritores inéditos. // Há censores sucumbidos. //... Não há palavras obscenas. /Há emoções que sangram. / [Apenas].” Ser feliz, amar, rir em alto tom, ainda seria considerado gesto de constrangimento?
Constranger e ser constrangido são sentimentos desgostosos em algo que, talvez, poderia ser desfrutado com a certeza do dever cumprido. Pois, para não sentir o constrangimento é necessário revelar o que pensamos sobre o assunto abordado. Hora complicada; por mais que cuidemos ao dizer, o tônus da personalidade tem o temperamento, o “gostar” que vai se confinando na revelação. Porém, há determinada hora que constrange o ouvinte e, aí sim, se configura um problema. O que fazer?
Somos temperamentos convergentes em nossos estilos de vida. Logo, todos se constrangem de alguma maneira ou com algo. Não é engraçado o aborrecimento causado pelas preocupações que, até então, queiramos ou não, certas coisas vão se apresentando em nosso dia a dia. Por mais que sejamos corretos, a vida é feita de paciência e de aceitação ante os fatos que nos rodeiam. Em Pedro Du Bois, “... a visão abarca a transparência/entre os caminhos: o andar lento / das inconsequências, as incertezas /demonstradas em nossos olhares...”
Pensamos atribuir ao constrangimento a palavra dura; o deteriorar; a inquietação que presenciamos e não sabemos como reagir ao olhar; o gesto; um cheiro; uma palavra; qualquer movimento que constranja não como angústia, mas como escolha e definição.
Sabemos sermos de natureza iluminada e possuirmos a força que nos consola e ampara nas horas constrangedoras. Por isso, a pulsação que nos torna mais fortes quando nos deparamos com a verdade ou a mentira; com a crítica e com o tempo que nos torna sensíveis.
Na medida em que precisamos uns dos outros, clamamos pela necessidade de viver a troca de experiências. Na vida, cada qual enfrenta o seu constrangimento, mas mantém a empolgação de vender ilusões. Como retrata Getúlio Zauza, “as ilusões que poderiam ser minhas /Já nasceram mortas quando nasci / Tive que viver a realidade nua / Não tenho queixa, só gratidão / Pelos percalços encontrados no caminho...”.
|
|