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O FRANKENSTEIN ATÔMICOAcredito que enquanto desenvolviam os princípios da fusão e da fissão nuclear, os cientistas não tinham a noção do que aquilo poderia se transformar no futuro. Nem os criadores da bomba atômica tinham tal noção. Mesmo quando vislumbravam os cogumelos radioativos enfeitando a paisagem dos testes.
Talvez, a ficha começou a cair quando o primeiro teste “oficial” escolheu Hiroshima no Japão de cobaia em 1945. Neste caso havia uma desculpa. Era preciso vencer a guerra. Então os fins justificavam os meios. Mesmo assim, o caminho não permitia mais volta. O Frankenstein vivia. E mais assustador. Ele mantinha a paz.
Só que o coração do Frankenstein não pulsava apenas nos milhares de ogivas nucleares prontas para aniquilar o inimigo e também o planeta. Rapidamente usinas nucleares se espalharam pelo mundo. Diante dos benefícios que tais usinas produziam, se tinha apenas noções teóricas no caso de um acidente. Então aconteceu Chernobyl em 1986.
Todos os anos em 6 de agosto as vítimas de Hiroshima são lembradas. Trinta anos depois, uma série de televisão reacende discussões e rusgas sobre Chernobyl. Os russos acusam a série de estar mentindo sobre os fatos. Diante das mentiras querem criar sua própria série e contar a sua verdade. O que de fato aconteceu em Chernobyl jamais poderá ser contado por uma ficção. Tampouco por uma ideologia.
Não assisti a série, mas estou lendo o livro no qual a ficção teria se baseado. Trata-se de “Vozes de Tchernóbil” da vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015 Svetlana Aleksiévitch. O livro foi escrito duas décadas após o acidente na Usina. Svetlana entrevista ela mesma, e vários personagens reais que viveram o momento e as consequências dos minutos, horas, dias e anos seguintes àquele horror nuclear.
O primeiro relato do livro é da esposa do bombeiro que estava grávida. Pelo que li nas reportagens da mídia, os dois aparecem na série também. Ficaria viúva duas semanas depois. Segundo o relato, ela sobreviveu porque a radiação passou toda para o feto. A criança nasceu viva, morrendo horas depois. Era simplesmente uma “bola radiativa”.
Como se vivia em plena Guerra Fria eles foram treinados para um ataque nuclear lançado pelo inimigo, no caso os americanos. Quanto as usinas nucleares, o governo afirmava ser tão seguras que poderiam ser construídas em qualquer praça de qualquer cidade. Isto até a madrugada de 25 para 26 de abril de 1986. E espantoso. Aconteceu durante um teste que simulava falta de energia na usina.
Chernobyl é considerado o maior acidente nuclear da história humana tanto em custo como e vítimas. Entretanto, não é o único classificado com nível máximo (7). Tem a companhia de Fukushima no Japão em 2011 durante o tsunami. Coisas da morbidez humana. Com o sucesso da série, o lugar tem sido escolhido para fotos no Instagram.
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