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DUAS HISTÓRIAS

Em sua última saída do palácio do Catete, Getúlio vê através do vidro do carro oficial um menino segurando o livro “Caçadas de Pedrinho” de Monteiro Lobato. Naquele instante pensa: “Se tivesse sido um escritor de histórias infantis, talvez pudesse ter sido feliz...em um outro mundo... mais perfumado...mais corrido. Getúlio lembra de uma cena de sua infância... o carro passa um cruzamento.
Na última vez que entra pela porta do palácio do Catete. Getúlio ainda pensa no desfecho para a carta. Um desfecho escrito somente à noite, quando lembra do menino e do livro de Monteiro Lobato:

“Dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.

Getúlio acha o final exagerado, mas saíra assim e pronto. Talvez as crianças entendessem.

Sessenta e dois anos, depois André, oito anos, morador da cidade de São Paulo, caminha pela rua Catete em sua viagem ao Rio de Janeiro. O pai mostra ao filho o Palácio do Catete e comenta sobre o suicídio de Getúlio Vargas.

- Era o presidente do Brasil e neste palácio ele se matou com um tiro no coração!

André não entende o suicídio, mas quando retorna a São Paulo, antes de voltar à escola, vê uma árvore, na casa da sua avó, repleta de amoras. As amoras caem no chão deixando-o todo vermelho como se manchado de sangue. O menino admirado chega a comentar:

- Há mais de um milhão de amoras na sua árvore, vovó!

André então lembra da viagem e pensa que a professora irá perguntar algo sobre o Rio de Janeiro. Se perguntar, ele deverá contar uma história exagerada, igual aquelas amoras da árvore da avó...e neste momento, André entende Getúlio Vargas. Ele pode ser uma história, uma árvore exagerada.

A professora durante a aula realmente pede que André conte sobre a viagem ao Rio de Janeiro. André diz:

- Vi um palácio onde um presidente do Brasil se matou com um tiro no coração! O chão do quarto dele ficou vermelho de tanto sangue!

- Que história mais horrível André! – comenta a professora.

O menino pensa: “Esta professora não entende de exagero. Qualquer coisa exagera... especialmente amoras e presidentes.”

DO LIVRO: TOUROS EM COPACABANA

 
   
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