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ÁGUA: UM POEMA À CONSCIÊNCIA Desapercebido cidadão,
Anestesiado cidadão,
Próspero e pacato cidadão,
Com que direito lanças nas águas
Os teus restos intestinais,
Restos de finas iguarias,
Sem ao menos te incomodar
Com que a tua urbe não as purifique
Para que abaixo outros como tu,
Também desapercebidos, anestesiados
E pacatos cidadãos,
Possam apanhá-las
E usá-las como usas,
Incomoda-te cidadão!
Despreocupado cidadão,
Egocêntrico cidadão,
Cuja montanha de abundâncias te impede,
Como um denso véu,
De enxergar do outro lado
O menino que escava o árido solo
À procura do líquido escuro,
Fétido
E salobro,
Única via para saciar a secura
Da sua sede miserável,
Enxerga cidadão!
Sossegado cidadão,
Acomodado cidadão,
Que ao girar da torneira
Enxerga e ouve
O doce jorrar do líquido,
Pequena cascata transparente,
Inodora
E sem sabor,
Nem imaginas que muitos outros
Cidadãos como tu
Caminham léguas e léguas,
Em rotineira saga,
Na busca do diamante líquido,
A maior riqueza da Terra,
Nosso Planeta Água,
Condoa-te cidadão!
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