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..., e a lua espiando a vida, e a vida espiando a lua!

Trecho do romance Massapê. Publicado em e-book na amazon.com

Quando a noite chega, chega a lua, chegam os noturnos bichos, chegam as brincalotices dos pequenos morcegos buscando o di cumê, chegam as melancólicas reflexões..., o negro que cega, a fogueira que arde, as emoções que afloram, a vontade de nada fazer, a não ser se deitar debaixo desse luar tamanho que se esparrama pelos cantos todos..., e deixar o esmorecido do corpo e o entorpecido do juízo, tomar feitio maior e desenhar a preguiça e a meiguice ilustrar o existir.
O repicado dolente da violinha que Pedrão ponteia; o murmurar da noite e o cantar das caatingas, com a pungência do seu habitar, da vontade de cantar e todos cantam, fazendo coro ao melódico da cantiga entoada por Pedrão e, por ter verve de poeta, ao final da canção, Gustavo declama Camões:
A flor baixa se inculca por Tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra, o que mais chupa.

Inspirada pela declamatória de Gustavo, Almerinda conclui a versa:

Para a tropa do trapo vazio a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.”

Riem, Almerinda e Gustavo, porque todos os outros, nada entenderam e voltam às cantigas e ao ponteado da viola, e ao melancólico espairecer..., mas, vez por outra Almerinda e Gustavo tem surtos de poética mais refinada e recitam versos e, por vezes, recitam e gargalhadeiam da ingênua rusticidade dos amigos.
E se vão mais versos. Gregório de Mattos, Camões e outros, além desses:
Se Pica-flor me chamais
Pica-flor aceito ser mas resta agora saber
se no nome que me dais
meteis a flor que guardais
no passarinho melhor.
Se me dais este favor
sendo só de mim o Pica
e o mais vosso, claro fica
que fico então Pica-flor.

E se vão mais cantigas, e mais poesia, e mais aquietação, e se vão olhares manhosos, contraponteados pela dolência das cordas da viola, tangidas com parcimônia e caprichoso gosto, e pelo coaxar da saparia da lagoa perto: sapo boi, sapo martelo, cururu, perereca, rapa-cuia... e lá do alto a lua aprecia, com certa cobiça e, por não poder descer mais perto, fica a poetizar com o lume que tem!

 
   
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