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DESABAFONa tentativa de controlar o vazio, a alma se esquece de viver.
Os dias parecem iguais, como se fossem curtos ciclos temporais.
A angústia mantém o coração acorrentado, refém do desespero.
O medo confunde a mente, desafiando a coragem.
Não há um planejamento a ser executado, pois a batalha é constante.
A liberdade vem apenas nos sonhos, mesmo que incoerentes.
Há confusão nos fragmentos dignos de serem lembrados.
É a culpa, antes de tudo, a responsável pelo caos presente.
Não era assim, mesmo que não fosse prazeroso.
Havia a curiosidade sobre os segredos da existência.
Tudo seria possível, mesmo que cansativo.
Viver seria um eterno desafio, carregado de questionamentos.
É dia lá fora e noite aqui dentro.
O receio mantém o presente opaco, como se este fosse um fardo.
Não há a necessidade de iniciar um novo ciclo.
Viveu-se mais que o necessário nesse curto tempo perdido.
A vida mostrou-se implacável quanto aos erros cometidos.
Foram muitos, lembranças de incansáveis recomeços.
A mente quebrou-se e pede socorro à imparcial racionalidade.
Tenta alcançá-la, em meio à guerra interna travada pelas emoções.
Não adianta chorar, pedir por ajuda, correr para o abrigo, mesmo que seguro.
Os fantasmas chegaram para ficar e compartilharão o caminho a ser seguido.
Estamos nas mãos do destino pela primeira vez nessa existência.
Apenas pairando no caos, aguardando pela teia a que nos prenderemos.
Tudo está confuso e a presente batalha será aquela a definir o futuro.
As escolhas serão tomadas por terceiros e a mente obedecerá.
O mundo exterior foi trancafiado, enquanto o corpo abdicou dos instintos.
Tudo é cinza, sem emoções ou desejos, sem quaisquer utopias.
As decisões não nos pertencem neste exato momento.
Existe apenas o fluxo universal, percebido pela primeira vez.
O mundo exterior dita as regras, mesmo que ignorado.
O corpo abdicou da mente em conflito e diz que sim.
Aceita o caos e não luta contra os novos desafios impostos.
O tempo passa, enquanto a alma percebe ser velha para o corpo físico.
Foram batalhas demais no pouco tempo vivido.
A guerra parece infindável e tem sempre um novo começo.
Estamos cansados por demais: A alma, meus fantasmas e eu.
Não há interesse em encontrar o melhor nos estranhos.
O desejo da reconstrução esvaiu-se e não anseia retornar.
Viveu-se demais em apenas uma vida e a existência tornou-se insuportável.
O corpo deseja o descanso e a alma implora pela paz.
Que sessem os questionamentos e as respostas vazias.
Que o amor retorne aos jogadores, ainda que seja uma possibilidade.
Que haja vida a ser vivida e não mais do mesmo a ser partilhado.
A prisão está fria por demais dessa vez, impedindo a entrada do sol.
A tortura é psicológica, comandada pelo subconsciente desarranjado.
Não há coragem para buscar a morte, pois o castigo seria eterno.
Não há forças para seguir adiante e a esperança esfacelou-se.
Teremos que aguardar o final desta batalha e de outras mais.
A sanidade retornará e o ser será temporariamente humano.
A sociedade voltará a ser concreta, embora corrupta.
Os homens terão a bondade latente, esperando para ser descoberta.
E o louco controlará sua mente, perdida em batalhas internas.
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