Eu não sou um covarde, sou um caçador.
Mas, sim, sou um carniceiro.
Eu devoro o medo, eu devoro a pobreza,
eu devoro a falta de possibilidades.
Eu caço em favelas e lixões.
Eu me alimento com restos podres de sonhos abortados.
Mas não é covardia, é sobrevivência,
é o que eu preciso fazer para me alimentar,
pois é tão difícil encontrar a carne fresca que eu preciso,
eu tenho de engolir muito osso para ingerir um pouco de carne
que este sistema superpredatório deixa para trás.
Eu sou uma hiena rajada,
a minha natureza é solitária, eu não tenho um grupo,
eu caço sozinho, desprotegido,
eu vago pelas selvas mais perigosas que você puder imaginar,
enfrentando as feras mais selvagens que você nunca saberá,
arriscando a minha vida de tantas maneiras
à procura de algo para alimentar a minha alma.
É fácil me chamar de covarde
quando você pode comprar a comida que você precisa
em uma prateleira aceitável de uma sociedade.
Eu gostaria de ver você ter que lutar até a morte,
sozinho, pela sua próxima refeição.
Você coloca as hienas como os vilões de seus filmes...
Oh, quão dignos e admiráveis os reis leões são!
Mas sou eu quem ri quando eles saem
e deixam seus filhos sozinhos em casa.