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Suicídio (R04) Não sei o que eu fazia sentado naquela poltrona, olhando fixamente para um vazio na parede. Logo eu, um trabalhador que nunca faltou ao emprego sem uma justa causa.
Pensava , e cada vez pensava mais. Fazia uma retrospectiva de minha vida. Uma vida vazia, sem causa e sem ocupação.
Uma vida bem diferente das outras pessoas , uma vida de preocupações, ou ocupações da vida alheia.
Não que eu me preocupe com as pessoas , mas com o que elas tem e eu não tenho. Esconder a verdadeira face de uma alma podre é fácil. Fingir que tudo está bem é mais fácil ainda.
Aquela manhã algo estranho estava borbulhando em minha mente, diabólico, desmedidamente tenebroso. Só sei que acordei e me sentei na poltrona do quarto e lá fiquei. Não sei o porquê , mas eu queria estar perto daquela mesinha e com as divagações da minha mente , com os pensamentos, deu-me uma vontade de abrir a gaveta da mesinha.
Foi automático e a vontade transformou-se em ação.
Abri, e lá estava talvez a solução de tudo. Magnânime em toda sua forma , reluzindo seu brilho, tal era seu brilho e seu lustre que dava para usar como um espelho. Majestoso em seu perfil, possuía uma silhueta nobre. Tocá-la e sentir seu metal frio, sentir toda a sua forma nas pontas dos dedos, algo fantástico de ver, a sensação era de medo e fascínio ao mesmo tempo.
A solução era ela que me daria , pois ela era firme, impiedosa, machucaria até minha alma. Um baque somente, uma única dor e tudo estaria acabado. Peguei-a na mão , senti toda sua consistência e peso.
Levei-a até a cabeça, um único estampido, a dor repentina, as luzes foram se apgando, o corpo foi gelando, os sons se extinguindo, a vida deu lugar à morte.
Alexandre Brussolo (21/12/1994)
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