Numa noite destas recentes na rádio online dedicada à sua memória, ouvi o saudoso radialista Hélio Ribeiro filosofar sobre a humildade. Hélio dizia que após terminada uma partida de xadrez, rei e peões voltam juntos para a mesma caixa.

Então lembrei da enciclopédia que tenho em minha pequena biblioteca. Roubei-a do escritório onde trabalhava. Já fui um menino que roubava livros. Calma! Não sou um ladrão. Tudo tem uma explicação. Jamais direi que fui roubado. Só que muitos livros que saíram emprestados da minha biblioteca, também nunca foram devolvidos.

Para minha felicidade com este pequeno “roubo”, acabei salvando a enciclopédia. Se não a tivesse trazida para casa, certamente os cinco volumes teriam sidos levados pela grande enchente de 1983. A água cobriu totalmente o prédio do escritório. Na ordem de importância dos objetos a serem salvos, os livros nem foram lembrados.

A Enciclopédia das Grandes Invenções e Descobertas, é uma viagem de conhecimento entre o ano 3000 antes de Cristo, e 1964 da nossa era. Do ano em que nasci 1957, no dia três de novembro a Rússia colocava em órbita da Terra a cápsula “Sputnik” levando a cachorrinha Laika. Em Moscou existe uma estátua homenageando a heroína canina.

O primeiro assunto 3000 antes de Cristo trata da invenção do jogo de xadrez no Ceilão. O que tem de verdade e de lenda é impossível dizer. Seu criador é “Sissa”, um brâmane que vivia na corte do rajá indiano “Balhait”. Suas peças representavam os quatro elementos do exército indiano. Carros, cavalos, elefantes e soldados.

A parte que não gostei da lenda, é que “Sissa” escolheu a guerra como modelo para o jogo, por ver nela ponderação e coragem. Em contrapartida, quis mostrar que a peça mais importante não vale nada sem a ajuda de seus súditos.

A lenda segue contando que o rei teria se encantado com o jogo. E com a sorte de naquele tempo ainda não existir o futebol, ordenou que o jogo fosse ensinado em todos os templos do reino. A “Sissa” o rei disse: — Peça qualquer recompensa que desejar.

“Sissa” que colocaria nosso Pedro Malassartes no bolso, pediu a recompensa em grãos de milho sobre o tabuleiro. Na primeira casa um grão. Dois na segunda. Quatro na terceira. O dobro de quatro na quarta. E assim por diante até a última casa do tabuleiro,

A recompensa não pôde ser paga já antes da trigésima casa, pois todo o milho da Índia tinha se esgotado. Conta-se que o rei não soube o que mais admirar. Se a invenção do jogo, ou engenhoso pedido de recompensa. Hoje, num claro sinal retrógrado, o mundo se admira com os gols de Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar.

Envolvendo a fórmula 2 64-1, a soma é: 18.446.744.073.709.551.615 grãos de milho.