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A Galinha Chicota De tanto azucrinar o ouvido da Chica ganhei um apelido de Chiquinha.
Achei horrível!
Odiei!
Mas quem gostava mesmo de me chamar de Chiquinha eram as freguesas da Chica, porque não gostavam muito da minha presença cujo oficio era dar palpites e xeretar os cochichos.
Ninguém se atrevia a falar mal da vida alheia na minha presença, para não correr o risco do segredo ser descoberto.
Sem dúvida nenhuma eu era o anjo da guarda da Chica e vice-versa. Se alguém olhasse sequer com o olho atravessado pra mim, já sabe, a Chica demorava em fazer o vestido.
Que coisa hem?
Pois foi neste chaleramento todo que um certo dia ganhei uma bela de uma galinha da comadre da Chica.
Adorei porque eu achava galinha a coisa mais linda do mundo, sem falar que ainda acho.
E se possível fosse criaria uma bem aqui no meu apartamento.
Mas, voltemos a galinha que ganhei de presente e cujo nome coloquei de chicota.
A chicota era amarelinha com pintinhas de toda cor e uma crista rosadinha que eu chamava de cabelo. Era um hem hem hem com essa galinha que só mesmo vendo para crer.
A chicota me adotou ou como mãe dela ou como irmã porque não saia do meu colo.
E os retalhos que eu ganhava da Chica eram pra fazer toquinha, saia, casaco e até meias para a galinha eu fazia com furos para sair os dedos.
As unha eram pintadas e no cabelo, digo na crista, eu passava óleo de bebê que peguei um pouco emprestado da minha mãe que estava lá de bebê em casa.
E era um xodó com essa galinha, que Deus me livre. A chicota quando me via parecia mesmo um cachorro quando vê o dono, não saia do meu pé. E eu morta de feliz falava:
- Venha pro colo da titia, ela vinha e ficava sentadinha, quietinha que dava gosto se ver eu com aquela galinha no colo.
As vezes pensava em levar pra casa, mas como a minha mãe era chegada a uma galinha ao molho pardo, Deus me livre de uma coisa dessas acontecer com a minha chicota. Acho que eu poderia até adoecer de tanto desgosto!
E assim os meses foram passando quando um certo dia cheguei à casa da Chica e a chicota estava num alvoroço tão grande, correndo pra lá e pra cá e gritando quá quá quá quá e tome mais quá quá quá quá correndo pelo meio do terreiro da casa da Chica que mais parecia uma galinha doida e não a minha chicota!
Mas a Chica me explicou, ela estava cantando de alegria porque botou um ovo!
A chicota estava meio que esquisita, estava muito orgulhosa e metida a besta só porque estava botando ovos.
Em um quarto nos fundos do quintal, a Chica preparou um ninho com palha de milho para a chicota botar os seus ovos e todos os dias religiosamente era aquele qua qua qua e podia conferir que lá estaria mais um ovo.
Passaram-se mais uns dias quando chego à casa da Chica e cadê a chicota?
A Chica me falou: esta de molho.
Quase enfartei. Será que a Chica teria tido a coragem de matar a coitadinha da minha galinha?
E vendo o meu desespero explicou que a chicota estava chocando os ovos e que não queria ver ninguém! E que não adiantava eu chegar nem perto porque ela estava muito ocupada cuidando da sua maternidade.
E era verdade, a chicota estava uma arara, e não deu a mínima pra mim, ficou zangada quando tentei chegar perto.
Vi pelo seu olho amarelo e arregalado que não estava mesmo querendo saber da titia.
Saí para não assusta-la, mas cá aqui com meu botões já estava preparando os nome para os filhotes da chicota que agora passaria a ser dona chicota.
Dito e feito, mais alguns dias e lá está a dona chicota com 10 pintinhos.
Era ela na frente toda orgulhosa e a filharada atrás. Onde será que eu conseguiria tantos nomes pra tantos filhos?
Sentei num banquinho e fiquei a admirar a minha galinha, tão linda com seus pintinhos e bem perto dali também existia um galo, de certo deveria ser o pai e o mais engraçado é que quando o chicão, digo o galo, olhava pra mim com olhar meio que suspeito não se atrevia a beliscar os pintinhos porque se por um acaso fizesse eu lhe arrancaria as penas uma por uma e olho no olho o tal do chicão pressentia o perigo, que no caso aqui era eu.
E com um caderno na mão procurava os nome dos filhotes de chicota que com aquele piu piu piu não desgrudava da mãe.
Ninguém neste mundo era mais feliz que eu.
Minha galinha chicota era mãe de família era cada vez mais linda e paparicada por todos que ali andavam, a Chica adorava a chicota e por este motivo sabia que jamais a minha chicota viraria ensopado e nem assado. Viveu até o dia que Deus permitiu.
Autor
Maria de Lourdes
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