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Marcha do tempo Ao final de ciclo de doze meses festejamos o novo ano que chegou! É isso mesmo? Parece-me uma pretensão descabida achar que o ano novo chegou. Veio até nós como um dócil cordeiro para estender a nossa vida.
Tomo a liberdade de propor aqui uma nova leitura para esse fenômeno que eu chamo de “A marcha do tempo”, implacável, irreversível, imutável, que não tem começo e nem fim. Na verdade não foi o ano novo que chegou para nós. Fomos nós que chegamos ao ano novo.
O número é apenas um marco imaginário que colocamos para registrar etapas de uma estrada longa e totalmente imprevisível. Em alguns trechos ela é íngreme e larga, com ventos fortes que nos açoitam e assustam. Em outros se apresenta como uma confortável linha reta sobre a planície cercada de verde e soprada por uma brisa mansa que nos envolve e induz ao erro de acharmos que somos importantes demais, autossuficientes, indomáveis. De repente encontramos um longo trecho com acentuado declive, estreito, com muitas curvas e margeado por despenhadeiros profundos, escuros que nos causam calafrios.
Recordemos aqui quantos trechos semelhantes conhecemos até chegar aqui. Quantas ações nós empreendemos, quantas jornadas cumprimos! Quantas vezes tropeçamos, caímos, levantamos machucados, feridos, no corpo e na alma. Fomos obrigados a parar para cuidar das feridas e guardar como troféus as nossas cicatrizes para seguir em frente. Quantos ficaram pelo caminho! Aflitos com mãos estendidas pedindo socorro e não podemos escutar, porque tínhamos pressa para chegar na marca da nova estação, o novo ano ou ano novo como queiram. Lembra-se de quando você caiu? Machucou-se feio. Ali inerte no chão enquanto a multidão seguia pensava que havia chegado o momento de desistir. Então eis que uma inesperada mão, saindo do nada, estendida de forma generosa, permitiu que levantasse e seguisse a multidão eufórica, fanática, frenética, afinal faltava pouco para alcançar a marca de uma nova estação. Se soubéssemos que era assim as decisões teriam sido as mesmas? Se tivéssemos a chance de refazer a marcha faríamos alguma coisa diferente? Esta é a verdadeira magia de viver... O próximo segundo é um vácuo de absoluta escuridão.
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