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Pobre Senhor

POBRE SENHOR

Pobre senhor que tem;
os olhos voltados pro chão,
a mente em solidão
e a mão no bolso enfiada.
Pobre senhor que vem;
cansado da vida vazia,
trazendo o que não queria
na sua fala engasgada.
Pobre senhor que anseia
despedir-se do mundo tristonho,
revogando seus desejos de sonho.
Dormir e não mais acordar!
Pobre senhor que na veia
não corre mais sangue de bravo
por não ser patrão, mas escravo
das mentiras a lhe acusar.
Pobre senhor que não teve
com o que se preocupar
durante sua vida a vagar
nos caminhos que o mundo lhe ofereceu.
Pobre senhor que manteve
seu tempo a chorar e chorar,
e muito mais se amargurar
por algo que não aconteceu.
Pobre senhor que não sabe
que nem ao menos esconde
sua tristeza que vai aonde
a alegria não pode alcançar.
Pobre senhor que lhe cabe
o que não recebeu do bem,
motivo para ir além
das feridas a lhe marcar.
Pobre senhor que previu
um mundo muito melhor
onde tudo girava ao redor
das vontades e desejos gratuitos.
Pobre senhor que não viu
que a vida era tão diferente
daquilo que ensinam pra gente
e que não são casos fortuitos.
Pobre senhor que agora
só pensa do mundo sair,
mas não sabe aonde cair
e nada leva para relembrar.
Pobre senhor que embora
a vida lhe dá de esmola
uma moeda que rola
sem nela poder tocar.
Pobre senhor que no mundo
esteve sem saber por que,
não viu o que não se vê
e não sentiu o seu coração.
Pobre senhor vagabundo
assim se sentiu sem saber
que a vida por aqui deve ter
seu momento de solidão.
Pois é pobre senhor tristonho
daqui somente levou
um cansaço que o abandonou
quando seu corpo caiu.
Pois é pobre senhor que não teve sonho
aqui passou quase despercebido,
morreu sem ser seguido
e nada deixou quando saiu.

 
   
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