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A PONTELá naquela casinha de madeira bruta e caiada,
Fincada no pé da serra onde nasciam as trovoadas,
Onde o vento se enervava e me fazia medos,
E as noites escondiam monstros e fantasmas,
Na sua frente passa um rio lento e teimoso,
Sobre aquele rio tinha uma ponte estreita e longa,
Que balançava sempre, como se brincasse com ele,
Alheia a sua pujança vagarosa e constante vale abaixo,
E por ali eu ia e vinha, e às vezes parava e pensava,
E deixava o sonho tomar forma e me levar com as águas,
Quantas folhas joguei naquele rio que corria sempre,
E na preguiça das tardinhas que já anunciavam a noite,
Eu perdia as horas vagando no passar das águas,
Sobre a ponte abusada que cortava o rio e não o temia,
E seguia em quimeras mil, com águas pela vida afora,
Olhava a serra, olhava o rio, olhava a ponte,
Olhava as águas que corriam como corria o tempo,
E via a casa, a chaminé, a fumaça subindo ao céu,
Que se misturava às nuvens, que levavam meus sonhos,
Dançando ao cântico vindo das aves do terreiro,
Quanta água vi passar daquela ponte soberba,
E quantos planos coloridos foram-se com ela,
Ficaram contudo as lembranças em aquarela,
Formada das cores, aromas sonhos e lembranças,
Daquela ponte que me levava de um lado a outro – da vida
EACOELHO
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