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A CIENCIA E O DESTINOA CIÊNCIA E O DESTINO
Campinas – SP – janeiro de 1954
Guerino completara 23 anos, e já havia concluído o curso cientifico, mas não pretendia prosseguir seus estudos, pois, sua meta era administrar a empresa de transportes de seu pai.
Com muito sacrifício e competência, ele a tornara uma das maiores do pais.
A frota composta só de caminhões e carretas com no máximo 3 anos de uso, era apontada como a forma de concorrer com as eficientes estradas de ferro.
A maioria das cargas no estado era transportada por via férrea, que perdia em agilidade nas entregas, o que lhe dava a preferência desse transporte em grande parte das cargas destinadas à sua região.
Guerino era o responsável pela entrega dos pequenos volumes que chegavam por carretas ao seu armazém, e vários eram seus destinatários, utilizava-se para tanto veículos menores e mais ágeis.
Em uma delas, que seria a ultima daquela, sexta feira, o cliente era um renomado cientista e seu laboratório ficava em um sitio distante do centro de Campinas.
Lá chegando, Boris, este era o nome do cliente, lhe diz bem humorado:
Beijos te amo e tchau, você conhece tudo aqui, por favor, guarde as minhas compras nos lugares costumeiros, aquela nuvem negra no céu, esta em meu caminho, se não sair agora ficarei retido e as chuvas serão fortes.
O cientista era um velho conhecido, e embora em turma mais avançada, eles foram colegas de escola. Inclusive participavam da mesma equipe de futebol do colégio, por esse motivo a liberdade de brincar com o amigo
Boris se afasta rapidamente, e, as mercadorias vão sendo guardadas, de saída o entregador nota que a porta do laboratório, onde são feitas as experiências, esta aberta, por pura curiosidade, ele entra no recinto, acha tudo muito interessante e, distraído não nota que se fechara lá dentro.
Assim, o desastrado, fica preso por todo final de semana.
Na segunda feira pela manhã, Boris chega para o trabalho.
Guerino fraco e faminto, diz ao cientista: _Encontrei um garrafão cheio de água e bebendo ela toda foi que consegui sobreviver pela ausência de alimentos.
Boris, surpreso e assustado informa ao amigo:
_Aquela água lhe fora entregue por índios da Amazônia, em uma viagem que fizera em busca de plantas que pudessem curar seu falecido pai, de uma doença rara, mas que outros cientistas comentavam lá existir.
E uma dessas tribos, havia lhe dado aquele liquido retirado de uma mina. E aquelas plantas, ficaram em infusão por 5 anos. Ele aguardava concluir outra experiência para utilizá-la.
Apenas uma gota dessa água, dada às cobaias alterava o comportamento e aparência delas. Estas ficavam mais jovens e ágeis.
Boris acreditava que ao ingerir todos os 10 litros da água seu amigo teria seu cérebro aumentado de tamanho, tornando sua memória muito superior às demais seres humanos e uma facilidade imensa para guardar tudo o que ver ler ou escutar.
Nem mesmo o cientista sabia o que realmente iria acontecer com o amigo, assim, o convida a ir diariamente submeter-se a testes e exames em seu laboratório.
Ficou claro que nada seria definitivo, e era importante saber os efeitos causados em uma cobaia humana, assim Guerino concordou com a proposta.
Antes de sair este ainda pergunta:
_Boris, como daria esse “chá” para seu pai, se ele faleceu há tantos anos?
O cientista sorrindo diz: No momento exato contarei, posso lhe adiantar que é uma maquina que ira me permitir enviar os remédios descobertos recentemente, com a água, se a encontrar novamente.
A família, nem notou a ausência de Guerino, costumeiramente ele nos finais de semana, ia pescar ou namorar em outras cidades.
Por ter sido criado em uma família simples, ele preferia a companhia dos empregados da transportadora, julgava ele serem pessoas mais leais.
A cidade de São Paulo comemorava naqueles 25 de janeiro, 400 anos de fundação, Guerino convida três colegas para irem até lá e participar dos festejos.
Qualquer pessoa ficaria emocionada com as celebrações que duraram às 24 horas do dia, e ao final deste, os jovens resolveram conhecer uma das “boites” mais freqüentadas da noite paulistana.
Depois de muita cerveja, cada um terminou a noite nos braços de mulheres que lá estavam.
Na manhã seguinte, Guerino houve de sua companheira de noitada:
_Menino, sou profissional do sexo há três anos, jamais encontrei alguém tão.
Fogoso, pensei varias vezes lhe pedir para parar, você me tirou o fôlego.
Ficou claro para Guerino que a água ingerida, já agia em seu organismo, pois nunca tinha ouvido esses comentários antes.
Todos voltam para Campinas, e ele vai até Boris e lhe conta o ocorrido.
Indagado pelo cientista se notara mais alguma mudança ele afirma:
_Sou capaz de lhe contar cada palavra que ouvi desde a hora que sai daqui até este momento. Lembro-me com detalhes de todos os lugares que passei, e se quiser também lhe digo as cores de um “vitraux” que vi em uma igreja.
Era essa a confirmação que faltava, aquela água já produzia seus efeitos.
Diante das circunstancias, Boris surpreende o amigo com um novo convite.
_Guerino, você quer ser meu assistente? E este confuso responde.
_Eu? Mas você bem sabe de meus poucos estudos, como ajudaria?
_Simples você vai voltar estudar, e nas folgas participará de minhas pesquisas, já que as mais importantes serão justamente as transformações em seu corpo.
Empolgado com o convite, ele aceita.
Anos depois, Guerino concluiu seus estudos, ele agora era um Físico Nuclear, e doutorado em botânica.
Com sua capacidade em memorizar tornara-se um cientista mais capaz que seu velho companheiro e este emocionado lhe pergunta:
_Eu preciso terminar minha maquina do tempo, você é a pessoa mais indicada para fazê-lo, você me ajuda? E recebe como resposta.
_Se isto for possível conte comigo, mas vamos manter sigilo sobre o assunto, você sabe o que as pessoas pensam e falam sobre nós, os mais amáveis nos chamas de “Cientistas Loucos”.
Haviam transcorrido 15 anos daquele final de semana desastrado, muitas coisas haviam mudado no mundo, a ciência avançara, mas Boris não prosperava em seu intento com a maquina.
Na primeira semana, juntos a dupla concluiu. Seriam poucos os dias que os separavam da primeira experiência com ela para enviarem ao passado os remédios mais modernos.
As primeiras tentativas são frustrantes, apenas pequenos objetos, do tamanho de um palito de fósforos foram deslocados no tempo, para os maiores seriam necessários mais alguns estudos.
A dupla se empenhava arduamente, não pretendiam pedir ajuda a classe cientifica, pois a imprensa tomaria conhecimento do pretendido, e poderiam ser alvo de chacotas.
Guerino passa a fazer palestras, sempre muito concorridas e se destaca. Estudantes de todas as áreas, políticos, cientistas e professores universitários participam de todas elas.
Em um desses eventos, ele conhece Natalia, uma moça 10 anos mais jovem, filha de um riquíssimo empresário, e o que tinha de fortuna, tinha de ignorância.
Tratava-se mesmo de um analfabeto, bem bronco. Ganhou sua fortuna com o trabalho, e menosprezava a cultura ou estudos dos demais.
Ao descobrir que sua única filha, queria namorar o renomado cientista, logo tenta intimidá-lo com ofensas pessoais dizendo que não criara sua filha para se casar com um pé rapado.
Guerino em seus pensamentos concorda com o velho, afinal, apenas ele sabe o que fez para educar a filha, e, sabe melhor que ninguém a importância de possuir recursos para uma vida tranqüila, conforto e até o respeito dos demais.
Mas não desanima, ele já havia namorado uma dezena de garotas, pensou amar a todas elas, mas jamais algo tão forte em seus sentimentos.
Natalia era uma jovem lindíssima, morena clara, alta, magra, e o que mais agradava a ele, muito culta.
O que faltava a seu pai sobrava a ela que curiosamente também seguira a carreira e era uma física nuclear, e que não seria a ignorância de seu futuro sogro que mudaria suas intenções.
Com todos esses empecilhos, o namoro segue e fica claro que ali estava um casal de apaixonados.
Certo dia, como fazia anualmente, Jonas, o milionário bronco, liga para casais amigos dele e da esposa, convidando-os para uma excursão pela floresta amazônica.
O ricaço já havia viajado pelo mundo todo, inclusive para o Brasil inteiro, mas nunca para a desconhecida Amazônia.
Seriam cinco casais além dele, sua esposa e filha; mas Jonas informa a ela que somente iria se concordasse ir sem o namorado.
Natalia pela primeira vez em sua vida não acata as ordens do pai, dizendo a ele que se Guerino não pudesse ir, ela também não iria.
Jonas acredita tratar-se de capricho da filha, ela sempre o atendeu, só não contava com o amor que ela nutria pelo cientista.
Os dias passam e fica claro que Natalia cumpriria seus propósitos, assim seu pai aceita contrariado que o namorado faça parte da excursão.
Jonas, ao combinar o passeio pela floresta com o guia, imaginava seria apenas um turismo ao redor da hospedagem, mas rapidamente notou que estavam se embrenhando pela floresta.
Mesmo na mata fechada, havia muito conforto, o guia levou barracas e animais carregados de provisões e tudo o que o dinheiro pode comprar.
No terceiro dia do passeio, ocorre o inesperado, animais selvagens atacam o acampamento, todos correm inclusive o guia, mas ele é atacado por uma das feras mortalmente.
Quando estas se afastam, o cientista é o primeiro a socorrer o guia, ele sangrara muito. Já à noite, com, as barracas os animais e provisões perdidas, o pânico é geral, e Guerino resolve agir.
Como primeira providencia, ergue uma barraca com galhos de arvores, e uma fogueira.
Naquela noite ninguém comeu, bebeu ou dormiu.
Assim que o sol aparece, o cientista descobre plantas e frutas que contem líquidos para beber e comer, assim, pode dar maior atenção ao guia enfermo e ainda debilitado, e todos sobrevivem.
Alguns homens da excursão tentam encontrar as provisões e as cabanas perdidas, inutilmente, pois acabam fazendo círculos em suas caminhadas, para piorar ainda comem plantas venenosas e também adoecem.
O cientista cuida de todos eles, inclusive de seu futuro sogro que repentinamente é acometido de febre altíssima.
Guerino buscando plantas para se alimentarem, encontrou aquela que tomou e que havia ficado em infusão por anos no laboratório de Boris.
Ele melhor que ninguém sabia dos milagres de que ela era capaz de produzir, assim separa varias mudas.
Pretende cultivá-las para necessidades futuras.
Três dias depois, os enfermos se recuperam e, iniciam o retorno ao hotel, com muitas dificuldades, mas felizes por achar o caminho de volta.
Os viajantes encerram o passeio e voltam para Campinas – SP
O cientista e sua namorada decidem ficar e seguir suas pesquisas.
Durante as incursões, o casal, com dados informados por Boris, encontra a tribo de índios, aquela que havia no passado, entregue água para seu companheiro.
Inicialmente são muito hostil, a presença deles não seria bem vinda, e mesmo com extrema dificuldade em comunicar-se com os indígenas, Guerino lembra-se de ter consigo varias fotos de Boris, e, com sinais demonstra a eles que aquele era seu amigo, e fora ele quem pediu para visitá-los, e agradecer pelas plantas e água que deram a ele.
Assim, conquistam suas confianças, e também ganham 10 litros de água cada um e mais plantas, somente ai resolve retornar para suas cidades.
Dias antes, Jonas dera uma entrevista, e, diante dos jornalistas e imprensa em geral, ressalta, que todos ali, somente haviam sobrevivido graças aos conhecimentos sobre botânica de seu futuro genro, e, que ficaria muito feliz se ele viesse a se casar com sua única filha. Pois o julgava um homem especial.
Um mês após, acontece o casamento deles.
Com a conclusão de seus estudos a jovem passa a integrar a equipe de Boris, que segue com o projeto da maquina que enviaria um remédio que curaria seu falecido pai, com a água trazida por ambos e as plantas, essa certeza aumentava.
1994 – Falece o pai de Guerino. Boris o conforta. Ele agora entende a obsessão dele em enviar a água para salvar seu pai, apenas naquele momento, sentia a falta que ele lhe fará.
Guerino enfático afirma: _Amanhã faremos a transferência
Iniciam os trabalhos, e tudo corre bem, a água fora enviada para 30 dias antes do falecimento do pai de Boris, tempo suficiente para sua cura.
A lapide do tumulo poderia indicar se houve sucesso no tratamento.
No dia seguinte, os cientistas foram até a sua sepultura.
Lá chegando, notam que nada havia mudado. A data do falecimento era a mesma, e todos resolvem buscar noticias nos jornais da época.
Como vitima de um golpe mortal, Boris lê na manchete de um deles.
“Hans Eliot”, após longa internação hospitalar em São Paulo, e com uma cura milagrosa, morre em acidente automobilístico quando já retornava curado para sua casa em Campinas.
O acidente ocorreu exatamente no mesmo dia e hora do falecimento anterior.
Dias depois Boris em profunda depressão, comunica ao amigo:
_A partir de hoje, não trabalho mais, farei viagens pelo mundo, passei 30 anos com um único objetivo, não o alcancei. Assuma tudo, ou faça do laboratório o que bem entender, e parte para o exterior.
Guerino se isola. Pensa nas invenções criadas para o bem, mas, que em mãos erradas se tornaram armas de guerra e imagina.
Uma pessoa com uma maquina de tamanho poder, facilmente dominaria o mundo, e claro destruiria quem se opusesse a ele.
Neste momento ele recebe um forte abraço de sua esposa que sabiamente recomenda:
Destrua a maquina. Ninguém tem o direito de mudar destinos, descobrimos essa verdade em nossa experiência. O destino venceu a ciência.
FIM – Tito Cancian
italianodeoderzo@hotmail.com
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