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O rio (T1371) Ainda me lembro daquele rio que passava atrás da casa de meu pai, inponente e majestoso, águas cristalinas, uma beleza. As árvores decoravam as encostas à volta de suas margens.
Meu pai morava em um pequeno sítio e este rio passava ali atrás. Eu era criança na época, meu pai adorava me levar para pescar, para isso havia comprado um barco, mas ele gostava de fazer a pesca esportiva, era assim que ele chamava, só não entendia, na época, porque ele tirava o peixe da água e depois o devolvia à mesma, e ficava olhando o peixe indo embora contente, e com um largo sorriso em seus lábios dizia que a vida era muito bela para desperdiçarmos, hoje entendo que meu pai respeitava a vida de quem quer que fosse, que o que valia era o espírito de competição e luta, que nunca havia um vencedor de fato, só uma troca de aprendizado.
Às vezes o pessoal da escola aparecia por lá, reuníamo-nos e íamos nadar, mas a coisa mais gostosa era quando minha mãe batia no triângulo de metal avisando que a mesa estava posta com café e guloseimas, parávamos tudo que estávamos fazendo e corríamos até a casa, todos com uma fome implacável.
Muitas vezes ficava sentado às margens do rio, olhos fixos no horizonte, abraçado ao Jack, um companheiro incomparável, não o via como um cão, mas como um grande amigo, a quem contava todos os meus segredos, todas as minha reflexões, e como um verdadeiro amigo me escutava atentamente. Adorava jogar um pedaço de pau no rio para que o Jack fosse buscar e trazer de volta, era maravilhoso vê-lo nadar, ele gostava de fazer isso, vivia latindo para que eu fizesse de novo, nunca se cansava.
A noite ia lá só para ver a lua refletir sua luz no rio, fazia um rastro que ligava aquele horizonte desconhecido às margens do rio.
Ainda hoje penso com muitas saudades daquele lugar, da casinha simples que dava um um tom especial àquela paisagem, do Jack que deve estar em algum lugar do céu, morreu velhinho já com problemas para andar, da turma reunida na mesa às gargalhadas e sempre elogiando elogiando as guloseimas que minha mãe fazia. Saudades de meu velho pai, que muito me ensinou e foi o responsável pela formação de meu caráter. Saudades do velho e bom rio, que hoje não é nem sombra do que foi, hoje corre sem vida, águas sujas, parece estar adormecido em seu silêncio, carregando o peso do desrespeito humano.
Alexandre Brussolo (18/11/2011)
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