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A SEREIA RAIO DE LUAR Três príncipes disputavam a mão da bela sereia Raio de Luar, filha do rei das águas do mundo, o Rei Tritão. Os príncipes vieram, cada qual, de um oceano diferente. O príncipe Hector, valente e bonito, era do Oceano Atlântico, o príncipe Manus, sábio e de uma cultura invejável, era do Oceano Pacifico e o príncipe Stratus, atleta de físico perfeito, era do Oceano Índico.
Para que um deles fosse escolhido seria preciso passar por uma prova, e o vencedor se casaria com a sereia princesa. Para a realização do evento, o rei mandou preparar uma enorme arena na frente do seu palácio de mais de dois mil metros de comprimento e quinhentos metros de altura, todo construído com pérolas e conchas cor-de-rosa peroladas que reluziam, sob a água claríssima, quando o sol ficava bem em cima do mar observando os seus habitantes.
Chegou o tão esperado dia. O dia em que um dos três príncipes ganharia a mão de Raio de Luar. A arena estava lotada, e, se tudo corresse bem, os súditos seriam convidados para a festa do casamento. Um tubarão tocou uma espécie de concha gigante anunciando a chegada do rei acompanhado de sua corte e de sua filha Raio de Luar. O soberano sentou-se no trono tendo a sua direita a princesa, linda como uma deusa.
O primeiro a chegar foi o príncipe Hector, do Oceano Atlântico, montando um cavalo-marinho gigante acompanhado por seu batalhão de peixes-espadas. Ele vestia um traje verde feito de algas entrelaçadas com corais multicoloridos o que o tornava mais bonito ainda. Raio de Luar sorriu para ele. Logo atrás, em companhia de alguns delfins, veio o príncipe Manus vestindo uma túnica branca que lhe foi enviada por uma das deusas do Olimpo. A princesa sorriu e acenou para ele.
O último a chegar foi o príncipe Stratus, do Oceano Índico, montado em sua baleia branca. Ele vestia um saiote de algas enfeitado com sargaços que balançavam a cada passo que dava, fazendo aparecer o calção, tecido em tela de ouro, presente de sua mãe. Pondo-se em frente ao trono real, Stratus curvou-se saudando o rei, a princesa e todos os nobres presentes. A princesa o presenteou com o seu mais belo sorriso. Aplausos, muitos aplausos da plateia que já o havia escolhido como favorito.
Os três príncipes fantásticos tomaram assento nas cadeiras douradas, reservadas para eles, pois ia começar o espetáculo dos peixes-palhaços, contratados para divertir o rei e a corte enquanto aguardavam a hora da prova. Após a saída dos peixes-palhaços, entraram as medusas, lindas, com suas roupas transparentes, tendo como destaque a bela Melusina, primeira bailarina do grupo. Elas começaram a bailar, com graça, a música, cujos acordes lembrava a “Dança da Fada Açucarada”, composta e executada pelos peixes-trombeta. Depois da apresentação das medusas, era a vez das moreias. Elas serpenteavam uma dança que ficou eternizada no fundo do mar como: “a dança do ventre das moreias”. O espetáculo continuou com um enorme polvo fazendo malabarismo com ouriços do mar, até que o responsável pelo cerimonial do palácio anunciou que era hora de começar a prova.
Quando os três príncipes se preparavam para dar início às provas, a concentração foi quebrada por um burburinho vindo dos espectadores. É que havia adentrado ao recinto um moço de rara beleza. Tinha cabelos negros e longos, trançados com muita habilidade, o que lhe dava um ar de guerreiro. O rosto bonito lembrava o de Narciso da lenda grega. Os olhos, de um verde irisado, pareciam hipnotizar a todos. Seu corpo atlético, pontilhado com escamas brilhantes que tremeluziam à luz do sol, arrancava suspiros das jovens sereias. Vestia uma calça bufante que se estreitava nos tornozelos deixando aparecer os pés, parecidos com pés humanos, mas feitos de barbatanas, diferentes dos outros príncipes que, da cintura para baixo, eram semelhantes às sereias.
Os três príncipes ficaram sérios. O rei, levantando-se do trono, perguntou-lhe:
- De qual Oceano você vem, meu jovem?
- Majestade, eu venho das águas geladas do Oceano Ártico.
- Por que está aqui se não foi convidado?
- Majestade, eu ouvi falar do torneio e fiquei curioso, pois no meu país é o rei que escolhe o marido de suas filhas. O escolhido não precisa passar por prova alguma.
- Você é da realeza?
- Não, majestade! – respondeu ele.
Mediante essa resposta o rei mandou que se iniciasse a prova que se dividia em duas partes. A primeira era a retirada do tridente sagrado que o deus do Olimpo lançara no mar bem na frente do palácio. O rapaz que conseguisse retirá-lo estaria apto para executar a segunda parte que era esticar o arco mágico e lançar a flecha a uma distância determinada pelo rei. E o primeiro candidato, Hector, tentou arrancar o tridente fazendo uma força incrível e não conseguiu. Tentou a segunda parte da prova e tendo fracassado, retirou-se envergonhado.
Diante do fracasso do príncipe Hector, Manus e Stratus, desmotivados, desistiram da prova. O forasteiro, cujo nome era Nemister, pediu licença ao rei para tentar as duas fases da prova, mas fez questão de esclarecer que não era candidato à mão da sereia princesa. Então, ele saltou para a arena e espalmando o tridente, o retirou do chão e, antes de depositá-lo aos pés de Raio de Luar, fez um discurso onde exaltava a beleza da princesa e a bondade do rei o que deixou a sereia emocionada. O chefe do cerimonial aproximou-se com um estojo de madrepérola nas mãos e, de dentro dele, retirou o arco mágico entregando-o a Nemister e dizendo a distância que o rei determinou para o lançamento da flecha. O moço pegou o arco e, juntando a destreza à força, o estirou arrancando da plateia um “Oh” de admiração.
Porém, quando lançou a flecha a mil metros como mandara o rei, os espectadores deliraram. Foi um grito só: “Ele merece a mão da princesa, ele merece a mão da princesa...”. A arena foi invadida pela multidão de seres marinhos fazendo um barulho ensurdecedor. Com os olhos, Raio de Luar procurava o estrangeiro na multidão e não o viu mais. Ele partiu sem dizer nada. A princesa entristeceu. Nem sua amiga Melusina conseguia fazê-la sorrir. A imagem do jovem não saia de sua cabeça. O rei Tritão, diante do estado emocional da filha, mandou que procurassem Nemister por todos os mares do planeta Terra. Meses depois a equipe de busca voltou sem nenhum resultado.
O mago da corte, em reunião com o rei, aconselhou-o a casar a princesa apesar do fracasso do torneio. A princesa disse ao pai que só casaria com Nemister. Diante da intransigência da filha, o rei tomou uma decisão: mandou que procurassem o misterioso Nemister na terra. E, para essa tarefa, foram designadas as sereias que, em noites enluaradas, seduzem com seus cantos, pescadores e tripulantes de barcos em rios e mares na tentativa de encontrar o amado da princesa que até hoje por ele espera no fundo do mar.
04/06/07.
(Histórias que contava para o meu neto).
(Maria Hilda de J. Alão)
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