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A AVENTURA DE KITO E BRISA (História infantil)

Eu sou um cãozinho vira-lata. Meu nome é Kito. Vocês podem dizer que é um nome esquisito, mas eu gosto dele. Gosto de ouvir o meu dono, o menino Ricardinho, gritar:
- Kito, pega a bola! Corre Kito... Vem comer Kito...!
Nós moramos numa rua perto da praia, e quando chegam as férias escolares, eu e Ricardinho passamos boa parte do dia na areia. Conheço todos os seus amigos e, dentre eles, o meu preferido é o Paulinho.
Ele tem uma cadelinha branca da raça poodle, de pelo macio, linda como eu nunca vi outra igual. Enquanto meu dono e seus amigos jogam bola, eu exploro a praia na companhia de Brisa. Este é o nome da beleza de cadelinha. Numa tarde ensolarada, enquanto todos jogavam a mais animada das partidas de futebol, eu e Brisa resolvemos caminhar para mais longe. Queríamos conhecer toda a extensão da praia. Fomos tão longe que nem o meu faro aguçado conseguiu encontrar o caminho de volta. Estávamos perdidos. Eu não fiquei preocupado. Sabia que meu dono sairia a minha procura e, tinha mais, estar ao lado de Brisa não é estar perdido, é estar “achado” e feliz.
Exploramos aquele trecho de praia desconhecido para mim. Brisa mostrava uma preocupação fora do comum. Para tentar acalmá-la, eu contava as minhas aventuras ao lado de Ricardinho. Ela ria e, ao mesmo tempo, perguntava:
- Será que eles vêm? Eu estou com fome...!
Ela estava com fome. As palavras caíram no fundo do meu coração. Eu não podia deixar a dama, que estava em minha companhia, passar por uma situação como esta. Então resolvi caminhar mais um pouco deixando a cadelinha deitada na areia à minha espera. O meu instinto de explorador me dizia que era preciso procurar alguma coisa. Os banhistas costumam deixar restos de sanduíches na areia. Não encontrei nada. Aquele trecho da praia não era frequentado. Voltei.
Deitei-me ao lado da minha amiga, que choramingava tristemente. Comecei a latir forte e alto na esperança de que Ricardinho e Paulinho pudessem ouvir.
- Eles não ouvirão, fomos longe demais... – disse Brisa chorosa.
Como não sou de desistir facilmente, continuei com os latidos. Parei por uns segundos para lamber o focinho da minha amiga e, desta forma, dizer a ela: “eu estou aqui, não tenha medo.” O céu começara a escurecer. Calculei que eram mais de seis horas da tarde. Logo ficaria escuro como breu. Sou corajoso, não tenho medo do escuro. E Brisa? Será que ela temia o escuro? Perguntei a ela:
- Quem disse que eu tenho medo do escuro? Não seja bobo, Kito!
- E se tivermos de passar a noite aqui? – insisti em perguntar.
- Nada demais. Basta que nos afastemos do mar. A noite a maré costuma subir e, se nos molharmos, vamos sentir muito frio.
Sábias palavras. Concordei com ela. Então fizemos um acordo: latir juntos. Assim fizemos. Ainda havia um pouco de claridade quando ouvi a voz do meu dono:
- Kitooo! Aqui menino! Kitooo...
Foi felicidade demais. Primeiro: ia voltar para casa; segundo: ganhei tantos beijos (lambidas) de Brisa que fiquei apaixonado. Corremos, eu e Brisa, na direção da voz e, quando avistamos nossos donos, pulamos para seus braços. Na volta para casa ouvi uma boa reprimenda de Ricardinho:
- Onde já se viu! Isso não se faz com ninguém! Por que foi para tão longe? Consegue imaginar o susto que me deu? Nunca mais faça algo parecido...
Eu pedi desculpas lambendo-lhe o rosto até que ele dissesse:
- Chega! Já entendi. Nunca mais fará isso, não é?
Antes de me despedir de Brisa, ouvi os dois meninos combinando uma partida de futebol para a tarde do dia seguinte. Brisa piscou o olho para mim como a dizer: “amanhã estaremos correndo pela areia da praia.”

(Maria Hilda de J. Alão)

 
   
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