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O REI DO POMARNum pomar, onde cresciam todos os tipos de árvores frutíferas, estava acontecendo uma grande discussão. As frutas queriam escolher um rei para o pomar. As goiabas, brancas e vermelhas, gritavam, com toda a força de suas polpas, que o rei do pomar devia ser o fruto da jaqueira, pois é grande e impõe respeito. As laranjas discordavam:
- Como pode – dizia uma laranja-lima - um fruto molóide ser o rei do pomar! Para mim o rei deve ser forte, ser colorido por dentro e por fora, por isso eu acho que o rei deve ser a melancia.
- Essa não! Gritou um limão mostrando todo o seu azedume na voz.
- Para rei do pomar eu indico o coco. Esse dará um ótimo rei. Está sempre no alto podendo reinar sem perigo de ser deposto por um fruto qualquer.
- Não concordo! – exclamou uma maçã – Veja bem, o coco está lá no alto e não vai olhar para baixo para ver o que acontece por aqui. Ele é orgulhoso e só vai pensar nele mesmo... nos seus amigos. Precisamos escolher, para rei do pomar, um fruto que fique no mesmo nível e que possa ver e saber tudo o que acontece por aqui. Ter um rei coco e não ter um rei é a mesma coisa.
A pera aplaudiu entusiasticamente a amiga maçã. As jabuticabas, grudadinhas na jabuticabeira, expuseram sua opinião. Para que precisa o pomar de rei? Ele sempre viveu sem um e nunca houve nada que perturbasse a convivência dos pés de frutas. Por que esse modismo agora? Rei, ora um rei... isso é coisa de fruto que não tem o que fazer na vida.
Um cacho de bananas, já quase maduro, se disse a favor de ter um rei sim, não por causa das árvores frutíferas, mas por causa dos pássaros que perturbam a maturação dos frutos. É só a fruta apresentar o primeiro sinal de maturação, vêm os passarinhos com seus bicos perfurantes e tumtumtum furam tudo.
- Vejam a minha terceira penca! Todas as bananas amarelas estão bicadas.
As árvores ficaram pensativas. Não é que o cacho de bananas tinha razão – disseram as jabuticabas. As goiabas sofrem muito com isso. Rolinhas, bem-te-vis e pardais amam a polpa da goiaba e quando encontram um bichinho lá dentro a disputa é feroz. E o mamão! Coitado! Tem um tal de sanhaço que come ele inteirinho. Como fazer para escolher um rei que pusesse um fim na farra dos passarinhos?
Um cacho de uvas vermelhas, parecendo rubis e doces como o mel, pediu licença para dar o seu parecer.
- Eu lanço como candidato a rei do pomar, o senhor abacaxi. Sei que ele não é grande, mas já nasce coroado. Impõe respeito pelos espinhos da coroa e a aspereza do seu corpo.
As árvores concordaram com o cacho de uvas e, numa votação aberta, e em poucos minutos, estava escolhido o rei do pomar. Viva o rei Abacaxi! Gritaram elas querendo saber qual a providência que seria tomada a respeito do comportamento dos pássaros. Foi neste exato momento que o dono do pomar, seu Manoel, chegou com um empregado, uma caixa de ferramentas e um imenso boneco de palha com os braços abertos.
O empregado fixou uma engenhoca, bem no meio do pomar, e nela espetou uma estaca com o boneco que ficava girando sem parar. Os pássaros foram embora assustados deixando que os frutos amadurecessem sossegados. Depois que o homem e seu empregado deixaram o pomar, o rei Abacaxi disse:
- Estão vendo? A ideia já foi copiada.
As árvores riram e foram fazer seu trabalho de gerar, fazer nascer e amadurecer os frutos para os homens saborear. Afinal é Primavera, a estação de vida e de alegria.
(Maria Hilda de J. Alão)
(Histórias que contava para o meu neto)
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