BALADA PARA NÓS DOIS

(Francisco de Assis Silva)

Teu perfume me estonteia,
A tua boca me enleia;
São calorosos teus seios
Roliços e muitos cheios
Quais dois limões maduros,
Irrequietos como o mar...
Com seus biquinhos tão duros
Palpitam trêmulos no ar,
Como dois pássaros inseguros
Que tem medo de voar...

Os teus cabelos tão lisos
Como novelos precisos
Feitos de sedosa lã...
Quando depois do afã,
Numa tímida embriaguez
Como a carícia de um beijo,
Encobrem a tua nudez...
- aumenta assim meu desejo!
Numa falsa placidez
Teu rosto rubro antevejo.

Teus lábios são como flores
Exalando seus odores;
Teus dentes são pérolas raras
Enfeitando as faces claras...
- me inquietam o pensamento
Se meus lábios tocam os teus
E se unem num momento...
- todos sentimentos meus
Me trazem um pressentimento
Que já sou um semideus!

Teu corpo – um manancial;
É como um rio caudal
Que jorra abundantes águas
Afogando minhas mágoas...
Quando estou em seu regaço
Sou um forte vendaval;
Mas com carícias desfaço
O jugo do imparcial
Desfazendo todo o laço
D’um domínio desigual!

Nos teus olhos de cristal
Refletem a luz ideal
Que cintilam em minha vida
Numa dosagem devida
Que enche todo o meu ser...
E no teu curvo quadril
Existe um distinto quê
Que mostra belezas mil...
- e a causa deste porquê
Toca meu corpo viril.


Neste convite ao amor
Que sem recato e pudor
Mostra a tua carne nua,
Lisa e branca como a lua;
- teu corpo na intimidade
Vai tecendo nosso ninho...
- e com toda ansiedade
Que nos envolve em carinho,
Cálidos de felicidade
Como a doçura do vinho!

Francisco de Assis Silva