Efuturo: Incompreensível (R17)

Incompreensível (R17)

Trilhamos por caminhos incompreensìveis, e o mais extraordinário é que o caminho que seguimos só tem à frente nossas vistas, o que fica para trás é envolvido por um véu que no ato do arrependimento tentamos desfazer sem jamais conseguir.
Era uma tarde tranquila de fevereiro, oh! fevereiro, mês da folia, mês da perdição. Preparava-me para mais um carnaval, sempre conseguia ludibriar minha noiva, o importante era aproveitar antes do casamento.
Ah! o baile, o cheiro da orgia no ar, a vida, a euforia, tudo se instalava na minha ânsia. De repente lá estava em traços angelicais, a tentação em pessoa, aquela que Zeus colocaria ao seu lado no Olimpo.
Um fogo atingiu-me, um calor intenso, e num instante já estávamos íntimos na animada festa da carne.
No êxtase da festa bebemos, rimos, nos embriagamos, nos conhecemos melhor e não sei como já estávamos sentindo o orgasmo deliberado da paixão, uma noite para não ser esquecida.
Nunca mais a vi, nem no serviço, em nenhum lugar. Só soube que havia se afastado para tratamento de uma doença. Nos burburinhos do corredor ouvi o nome da maldita doença. Rapidamente fui fazer um exame, e constatou-se, foi pior do que se tivesse tomado várias facada, meu castelo de sonhos desmoronou-se.
Contei aos familiares, que não foi tão difícil, mas para minha noiva foi terrível ainda lembro como foi:
__ Sabe as coisas às vezes não caminham como a gente quer, tomam rumos inesperados, rumos que não queríamos que tomassem, mas infelizmente tomam, eu só queria que você soubesse que você eu sempre amei, amei com toda com toda a intensidade, e as outras era só paixão , só sexo mais nada. Você sempre foi justa , eu que cometi uma injustiça com você e recebi o castigo que terei que cumprir. Hoje te liberto para seguir o teu caminho, pois o meu não pode ser mais ao seu lado , nem se eu quisesse. Para mim está sendo difícil dizer-te tudo isso e fazer essa revelação, mas a verdade é que estou com AIDS. Não precisa se alarmar, você não deve estar, eu não fiz amor com você este mês, e eu peguei, tenho certeza disso, foi de uma menina do serviço que encontrei no baile, bebemos e depois...
Consegui dizer tudo com muita dificuldade, o que doeu mais foi a reação dela, calada , levantou-se e foi embora.
Atualmente fiquei sabendo que ela está casada e espera um filho, e eu vivo agora numa cama de hospital esperando o silêncio da morte.


Alexandre Brussolo (31/07/1997)