SUPERFÍCIE
Na superfície reina a apatia, apartada da confusão.
A névoa paira sobre as águas, confundindo a visão.
Pouco mais de dez metros, diz-se da profundidade.
Meia hora a remo, entre esta e qualquer outra margem.
Quem sabe nadando, a mente não congelaria...
Quem conhece as histórias enaltece a voraz ousadia.
Há coragem nos olhos de todos que lá adentram.
Buscam a fuga do medo, daqueles que os atormentam.
É mais frio no fundo, diferente da superfície.
É mais belo no escuro, quando brilham seus arrecifes.
Muitos foram eleitos para tocar suas águas.
Poucos de fato notaram a cor e o contorno das mágoas.
A solidão dos que vivem chorou, transformando a nascente.
Teceu cheiros, formas e versos; criando a imagem presente.
O povo correu para ver qual dos dois venceria a aposta.
Não que alguém se importasse, mais pra ter um assunto na prosa.
Viram loucos pairando nas águas, chamando por entes perdidos.
Escutaram o vento soprando mentiras aos pés dos ouvidos.
Correram na escuridão, temendo perder o espetáculo.
Mas apenas a névoa pairava na superfície do lago.