EM MINHAS MÃOS, O PUNHADO DE AREIA
EM MINHAS MÃOS, O PUNHADO DE AREIA
Roberto Schima
... Em minhas mãos, o punhado de areia principiou a escorrer lentamente através dos vãos entre os dedos. Por mais que eu os apertasse, diversos grãos, ainda assim, conseguiram escapar.
Desisti.
A areia, como o próprio fluxo da vida, não poderia ser aprisionada e nem tampouco detida.
Afrouxei as mãos e, respirando um novo fôlego naquele afã de liberdade, a areia escorreu rápida e livremente, esparramando-se com a ajuda do vento, indo juntar-se à praia indiferente.
Olhei para minhas mãos. Elas sempre foram pequenas, pequenas demais para tamanho sonhos que desejavam alcançar - tocar sim; prender, jamais - e esfreguei uma palma de encontro a outra a fim de livrá-las de vez de todos os grãos de areia.
Percorri o olhar adiante de mim, naquela faixa de litoral que parecia não encontrar fim... Ah, rimou! Sim, sim... e sim!
E ia longe, lá longe, aquela metáfora da vida, do tempo, dos sonhos perdidos, presentes e ainda por encontrar.
Deixei tudo aquilo para trás - como as minhas pegadas, que logo seriam apagadas pelas ondas que, por sua vez, também viriam a perecer fracas e diminutas, numa tênue mortalha de espuma - e retornei para casa, sentindo-me pequeno e vazio, sob a imensidão daquele céu de início de inverno, rasgado pela memória e por anseios aos quais era jovem demais para saber exprimir...
Trecho de "A Voz do Oceano"
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