HISTORINHA DE CARNAVAL
HISTORINHA DE CARNAVAL...
Roberto Schima
Era noite de carnaval.
No vazio frio do oceano, o navio afundava.
As pessoas desesperançosas riam, pulavam, gritavam, dançavam. E insistiam para o quarteto de cordas tocar e tocar sem parar jamais.
A música corria solta, frenética, ensurdecedora. Uma pérola de alegria no interior de uma concha a perecer.
E todos por trás de suas máscaras festejavam, esvaziavam garrafas de vinho, bolinavam, fartavam-se no banquete, fornicavam em público sem qualquer pudor.
Confetes e serpentinas.
O oceano alcançou o salão.
Mesmo com água pelos joelhos, aquela gente insitia em valsar, bebericar, amar, comemorar, berrar, vomitar de tanto comer.
O mundo era uma festa!
Era como se o tempo fosse durar para sempre, ou congelar-se em uma eterna folia.
Quando, enfim, o quarteto de cordas não conseguiu mais tocar, todos estacaram subitamente, água pelo pescoço.
Surpreendidos.
Angustiados.
Despertos.
A luz principiou a falhar.
O mar batia forte no costado.
Os cristais no candelabro tilintaram.
Milhões de confetes flutuavam ao nível dos olhos.
E, momentos antes do derradeiro e engasgado suspiro, perguntaram-se mutuamente num misto de censura e desespero:
- Como VOCÊ pôde deixar isso acontecer?
Assim, cedo ou tarde, a festa dos humanos acabou.
E, na escuridão fria e silenciosa mais abaixo, sem pulos, sem gritos, sem sorrisos, o carnaval dos tubarões teve início.
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